sexta-feira, fevereiro 16

Paleografia Moderna III



Não podemos aqui calar a nossa mais profunda consternação por, no nº 24 da Rua José Estêvão, sito nesta nossa cidade de Lisboa, continuarem a subsistir os atropelos aos direitos dos animais e à legislação comunitária.

Como toa a gente sabe a lagarta é aquele animalzinho simpático que, de obscura cagadela num sítio sombrio e húmido, vai passando a larva, crisálida, casulo (na fase fetichista) e acaba por se transformar em borboleta. A sua capacidade de sobreviver em diferentes ambientes leva-a a escolher habitats tão distintos como os pratos de salada das cantinas universitárias, o estádio de alvalade (preferiam o antigo. Da última vez que as centopeias as foram aí visitar escorregaram e partiram as pernas nos azulejos de casa de banho.), hortas, e outros sítios onde criaturas desprovidas de coluna vertebral possam pastar como é o caso do parlamento, do patriarcado, quarteis, sede do PRN, casas de putas e afins.
Prender uma lagarta num elevador, mesmo que situado na Estefânia e num prédio de gente bem, é um crime inadmissível, um inqualificável atropelo à dignidade da lagarta. Se o problema é já grave, mais ainda se tornará quando, após a saída do casulo, tiver de esticar e secar as asinhas na caprichosa intermitência da luz do elevador. Mais ainda, como não foram criadas condições de acessibilidade para a lagarta no dito elevador, a pobre vai ter de se sujeitar à humilhante situação de ter companhia no elevador. Convenhamos que se trata de uma actividade íntima e não adequada ao voyeurismo mirone dos utentes do já mencionado elevador.

E que dizer ainda a respeito dos efeitos nefastos que a nicotina poderá causar à saúde da dita lagarta: cancro da penugem, endurecimento das articulações, bicos de papagaio, um rombo na carteira, alteração da cor das asas por causa da nicotina, ejaculação precoce, impotência e chatices muito sérias na borboletopausa.
Finalmente, trata-se de uma flagrante violação ao direito de circulação comunitário que, por ser tão grosseira, nos escusamos de comentar.
Não vos lembraides da lagarta que há em todos nós, naquela lagartinha maluca da Alice in Wonderland da nossa infância, e eu da então assistente e hoje PROF e fanática da TLEBS Clara Correia às voltas com a Alice au Pays du Langage da Marina Yaguello, e tantas e tantas outras recordações individuais e colectivas que logo nos acorrem ao pensamento quando dela ouvimos falar. É por isso, para que todos nós sejamos capazes de recordar e deixar em tributo vivo aos vindouros aquele olhar brando, doce, meigo e piedoso como a Laura de Petrarca -- discordamos obviamente da posição de Pedro Santana Lopes que, no seu livro Causas de Cultura refere ter Petrarca tido um caso com Beatriz e Laura ser a amada platónica de Aretino --, para que também eles, os nossos filhos, netos, bisnetos e outros a vir possam, também eles, interromper a leitura da Menina e Moça sob a sombra dos amieiros e contemplar tão augustas faces.
Posto isto, lançamos daqui o apelo a quem de direito,
às autoridades,
aos desautorizados,
aos partidários do SIM (tirando a Inês Pedrosa),
aos partidários do NÃO (tirando todos menos uma menina de t-shirt do Não justinha num dia de campanha à chuva),
aos defensores dos animais,
aos amantes dos programas do Manuel Luis Goucha´,
à Sociedade Filarmónica e Recreativa dos Confrades da Irmandade da Boa Pinga,
às putas como aos políticos,
às portuguesas (com especial interesse por uma certa menina de t-shirt do Não justinha num dia de campanha à chuva e satitantes seios túrgidos),
aos portugueses,
meninas e meninos,
unide os vossos corpos num abraço fraterno e ergueide a voz, juntando-a à nossa, ao sempre crescente número de membros, militantes ou apenas simpatizantes, curiosos ou penetras que o MLLE - Movimento de Libertação da Lagarta de Elevador tem vindo a registar nas suas fileiras:




num único, enorme, gigantesco grito, numa só voz, numa só vontade, numa mole colectiva que avança inexoravelmente para a plenitude do século XXI e cujo eco irá ser visto pelo Hubble no século XXXXXVIII e gritaide:


LIBERTEM A LAGARTA

1 comentário:

Sofia Freire d'Andrade disse...

Quixote de collants,
Como sempre a batalhar por causas mui nobres...acho que sim...também gritarei:
LIBERTEM A LAGARTAAAAAAAA
FREE THE ?????(ai a merda!!!)
Desta tua menina de tshirt justa, de belos seios túrgidos, mas...SEMPRE PARTIDÁRIA DO SIMMMMMMMMMMMM