quarta-feira, janeiro 31

Anexo ao post anterior: MOTIVAÇÃO



As imagens seguintes devem ser inseridas nos pontos assinalados no post anterior.
Imagem 1: Ambiente motivacional do funcionário
Imagem 2: Pirâmide das necessidades de Maslow

O texto do post anterior foi escrito por mim com o melhor doa migos: Angelito

MOTIVAÇÃO

O presente texto foi escrito enquanto paródia teatral a todos os teóricos da motivação e às suas patacoadas (caso o leitor não esteja a ver do que se trata e for masoquista pode sempre pedir alguns esclarecimentos aum cinzentão da gestão. Se lhe bastar o modelo contas de merceeiro pode apelar a Sua Excelência o actual Presidente da República).

PRÓLOGO INTRODUTÓRIO
Os últimos resquícios de luz vão-se esbatendo sobre os cortinados bafiosamente carcomidos que ladeiam um palco de tábuas soltas e inseguras a que uma tira de veludo de cor indeterminável debruada com uns ouropeis onde o verdete começava a deixar um rasto de picotado bruscamente interrompido por um símbolo do teatro que, com o seu entrecruzar janiforme, vem dar um cunho respeitável à cena onde, agora, com o passo lento, um velho actor em fim de carreira que, vivendo a vida velozmente não se apercebeu o quão fúteis como fáceis ao olvido são as plateias, se vê presentemente obrigado a pisar o incerto estrado deste teatro de rua. Entra o Narrador, pela esquerda, talhando obliquamente a cena. Nos lábios arvora o sorriso motivado de quem se sente fadado para tudo dominar — como um Julien Sorel que, dominando Paris, exclama: “Maintenant, à nous deux!” —, a quem a graça e o “donaire” dos movimentos conferem solenidade. Quando, na parte de trás do barracão, um velho gira-discos vai começando a debitar o que lhe resta do De Fine Temporum Comœdia de Carl Orff nas estrias desmesuradamente violadas, no ar começa, por entre vénias e salamaleques, a elevar-se a voz gasta e cabotinamente motivada de velho ilusionista do narrador.

NARRADOR

Encarregou-me o autor de ilustrar, com o troar da minha voz, e de assim pôr à prova a Vossa fortaleza ao fazer ressoar, pelos vales côncavos dos vossos pavilhões auriculares, o relato dos tormentos de um grupo de jovens aspirantes a bibliotecários e arquivistas pelas mansuetas agruras do dever tratar o agridoce tema da motivação. Debatiam-se os pobres nas mais loucas e espiraladas convulsões — fulvos como a Americana de Mário de Sá-Carneiro —, os dedos contorciam-se por entre as cabeleiras que serviam de moldura a um grupo de rostos onde o desespero de não ser capaz de levar a bom termo uma empresa que só seria comparável aos hercúleos labores. Foi então que - o ruído e a erosão do tempo não permitiram determinar o autor de tão graciosa intervenção - um fugaz e motivado sorriso floresceu num dos vultos sentados em torno de uma távola redonda onde o efeito da iluminação da lâmpada de halogéneo cedia progressivamente terreno face ao desabrochar de uma esplêndida manhã de Primavera. Os raios benéficos dardejados pela sublime quadriga de Belerofonte infundiram, qual toque de varinha de condão de benéficos efeitos, um clima de motivação no grupo que , como sob efeito de uma descarga de 800 volts no traseiro, se puseram a trabalhar possuídos por um furor divino tão ao gosto platónico mas com a precisão lógica do velho mestre Aristóteles. Os poucos manuscritos que, ciosamente guardo no meu seio, foram-me legados por um velho marinheiro, in articolo mortis, nas convulsões de uma última crise de cirrose por entre o melancólico e soturno matraquear ensurdecedor de uma taberna de Hamburgo. Mas deixemos de parte os convenientes (faz uma vénia com o chapéu tirolês onde uma pluma de falcão cedeu o lugar a uma pena de corvo) e entremos no assunto que é tempo de findar o prólogo. (Vai recuando, por entre vénias e contorções, nos lábios flutua-lhe etéreo, eterno e enigmático sorriso cabotinamente motivado. Uma última tirada) A Motivação cantarei por toda a parte, se em tanto me ajudarem o Engenho e a Arte.
CAI O PANO
FIM DO PRÓLOGO

ACTO I


A cena está deserta e o público em pulgas por beber ansiosamente a continuação de uma tão brilhante quão suculenta farsa trágica. Lentamente, sem pré-aviso, o sipário começa a levantar-se e um silêncio religioso apodera-se da viela onde antes reinava, incontestado e imperturbável, o pandemónio das grandes ocasiões. O Narrador entra e dirige-se à boca desdentada da cena onde, depois de saudar ritualmente o público à direita, ao centro e à esquerda, alarga ritualmente os braços no ecuménico gesto de a todos e com todos querer partilhar a larga e usurada sobrecasaca que porta à laia de traje académico. Os cabelos, a que as cãs dão um ar solene de capelo, engrinaldam-lhe, refulgentes e argentados, a fronte larga e vincada. No ar começam a soar os primeiros acordes do Theme From The 3rd Movement of Sinister Footwear de Frank Zappa a que se contrapõe a voz gasta mas ainda firme do Narrador que começa a ler umas folhas de caderno a que o recorte irregular de um dos lados e o amarelo amarrotado do tempo davam um ar serôdio.


NARRADOR
(Depois de uma última vénia e procurando todos oscular com o seu sorriso contagiantemente motivante)

Como o magnânimo público certamente sabe, na definição de Dana C. Rooks, Motivation is a technique or concept which influences the actions of an individual by integrating personal goals with the organization’s work goals in an environment which can provide a common ground for these competing needs . Ora, como é claro para todos nós, uma tal definição apresenta três elementos fundamentais: o interesse do indivíduo, o interesse da instituição e a coexistência saudável entre estes. Comecemos então, se a gentil audiência tiver a bondade de me acompanhar neste intricado raciocínio, por nos debruçarmos um pouco sobre o círculo ambiental do funcionário de bibliotecas. Por círculo ambiental entendemos o conjunto de elementos que influenciam o funcionário durante a sua actividade profissional: a saber, necessidades/anseios e objectivos pessoais, necessidades laborais, necessidades e valores da sociedade em que se encontra inserido, necessidades familiares e amigos e, finalmente, uma miscelânea de vários factores externos que podem influenciar a sua prestação laboral. Uma tal teia de conhecimentos deve ser dominada pelo gestor, que a tudo deve estar atento e a todos deve atender, e pode ser sintetizada através do seguinte esquema:

(Chegado a este ponto, o Narrador desembesta num frenético sapateado em tudo semelhante a um Fred Astaire possuído pelo Mal de São Vito ou dançando as estranhas e compassadas melopeias de Vinicio Capossella, prossegue, dirigindo-se, por entre piruetas e figuras, para o lado esquerdo onde uma invisível mão, que arvora a pindérica e burguesa opulência de um anel de curso de ouro tão amarelinho que até parece um malmequer amarelo cujo centro tivesse sido substituído por um estranho calhau rolado de cores aquosamente pífias, lhe estende um pequeno apontador. E é vê-lo saltarelar enquanto pedagogicamente vai apontando os diversos elementos a que o benévolo leitor pode ter acesso se tiver a bondade e a paciência de aceder a continuar a presenciar este espectáculo)

Esquema 1: Ambiente motivacional do funcionário (ver post seguinte)
(O Narrador volta a recolher o apontador e, num passe de mágica, fá-lo desaparecer por entre os dedos para dar lugar a um lenço que se irá transformar num coelho com um ramo de rosas entre os incisivos. A plateia aplaude em delírio e, uma vez acalmadas as hostes, o Narrador retoma o discurso)
Um dos aspectos que mais tende a minar os esforços que o gestor desenvolve no sentido de implementar uma política de motivação, prende-se com a existência de um sem número de lendas e de expectativas por estas geradas, e que afectam a cabal implementação de uma política estrutural ou mesmo de medidas conjunturais.
(O Narrador, chegado a este ponto, pigarreia para aclarar a voz, descontrai momentaneamente a magistral postura, beberrica minuciosamente um copo de água e, recompondo a compostura de que tinha abdicado durante breves instantes, ajeita a gravata e prossegue no seu monólogo.)
A primeira destas lendas prende-se com a persistência de alguns dos aspectos da Teoria das Relações Humanas de Elton Mayo, nomeadamente com a questão que diz respeito ao facto de um trabalhador desmotivado não poder ser produtivo como um trabalhador motivado. Com efeito, muito embora se encontrem intimamente ligadas, não existe uma relação bilateral entre a produtividade e a motivação. Um trabalhador pode estar bem inserido no seu meio de trabalho, pode gozar de um excelente relacionamento interpessoal com os colegas e chefias e, no entanto, ser menos produtivo do que um seu colega de contacto difícil e conflituoso mas mais bem dotado no que concerne aspectos como a perícia e a preparação adequada para a função desempenhada. Não se pretende aqui fazer, de forma tão sumária quão simplista, um julgamento negativo da Teoria das Relações Humanas. De resto, é nesta que as teorizações futuras sobre a motivação encontram a sua génese e é devido a esta que as empresas e as instituições puderam gozar de um rosto mais humano por parte das respectivas administrações.
A segunda ideia errónea parte da crença que se pode impor uma política de motivação. A motivação não é um mero problema que possa ser resolvido por decreto como a catolicisação dos judeus por D. Manuel. Ninguém pode forçar ninguém a sentir-se motivado. Cabe ao gestor saber tomar medidas que saibam criar um clima de motivação institucional capaz de influenciar, global e individualmente, a equipe que dirige e uma tal realidade passa por uma intricada rede onde convivem os aspectos individuais a que já atrás fizemos referência. O que não convém perder de vista é que o mais ambicioso dos objectivos seria a criação de um ambiente motivacional em que o funcionário encontre, na sua actividade e no meio, factores de auto-motivação.
(Um lenço de alva cambraia vem agora enxugar algumas gotículas de uma solução salina que apresentam uma estranha forma de pérolas de húmida e quente luz.)
A terceira concepção que pode originar equívocos, prende-se com a crença segundo a qual todos os funcionários podem ser motivados. Tal como não se pode impor uma política de motivação por decreto, também pode acontecer que um determinado número de funcionários não estejam disponíveis para ser motivados. Tal pode suceder por vários motivos entre os quais a manifesta incompatibilidade entre o funcionário e a função desempenhada, devido a uma situação do foro privado que o impede momentaneamente de disponibilizar a sua carga motivacional para o trabalho desenvolvido ou, como é muito frequente no funcionalismo público, no caso do funcionário ter aderido àquela grande família dos funcionários fartos de funcionar.
O quarto grande mito que se associa às teorias da motivação diz respeito ao funcionário calaceiro, faz-nenhum, calão que responde com ar de enfado ao cliente da organização ou que apresenta baixos índices de produtividade. São realmente poucos os casos de funcionários genuinamente preguiçosos, sendo mais legítimo seguir aqui um raciocínio semelhante a Simone de Beauvoir e postular: On ne naît pas paresseux, on le devient . Com efeito, na maior parte dos casos, o funcionário sofre de e por um ambiente e uma função que o não souberam ou sabem motivar. Um caso típico desta situação consiste na situação de tantos funcionários subaproveitados, a quem são distribuídas tarefas pouco compatíveis com as suas habilitações ou inclinações ou, como no caso do funcionalismo público, literalmente cilindrados por um sistema onde a simples antiguidade é militaristicamente um posto, seguindo assim uma estranha e perversa lógica que, se pode ser aceitável ao nível da caserna, não pode deixar de só poder ser visto como uma mentalidade alienígena e alienante dentro de instituições que se destinam a fazer frutificar a matéria cinzenta e produzir, difundir e tratar informação como é o caso das bibliotecas, arquivos e centros de documentação.
(Pausa para respirar após uma tão longa tirada. A plateia murmura e abana as orelhas em aprovação.)
Ora, um dos factores que levam o gestor, ou o supervisor por este delegado, a classificar um funcionário prende-se com uma incapacidade destes em resolver os problemas que estão na base da desmotivação. Assim sendo, encontra no refúgio de uma fácil quão veloz e redutora classificação para justificar a sua própria inoperância. No fim de contas, perante um diagnóstico tão evidente de preguiça congénita, degenerativa e crónica, nada mais resta aos ilustres físicos do que, ora com um ligeiro flectir dos ombros, um tremor no olhar e assumindo um tom entre o consolador e o paternal, ora com a arrogância prepotente e insegura de ser um fruto típico de liderança de primeira geração, proferir o fatal veredicto: O seu é um caso perdido! Nada mais há a fazer ou a dizer! Não se pretende aqui proceder à crítica do funcionalismo público e de uma certa vocação previdencial da sua filosofia para se proceder a um panegírico do sector privado. De resto, a situação de desmotivação pode residir na precariedade laboral ou na aplicação selvagem dos princípios advogados pelos Chicago Boys, sejam estes os rapazes simpáticos de Al Capone ou os muchachos do Sr. Milton Friedman (para o leitor menos atento, esta última foi uma singela homenagem a uma das crónicas que o Brederode dos Santos escreveu no EXPRESSO, quando este ainda era um jornal e não uma colecção de suplementos, a respeito do nosso inefável Presidente e então Primeiro Ministro).
Uma vez que até ao presente momento ou desmotivamos os que ainda não sabiam isto ou produzimos o mesmo junto efeito junto dos que já sabiam isto e muito mais, vamos prosseguir com o nosso espectáculo, abrilhantando-o com um medley onde se pretende dar uma visão de conjunto e particular das várias teorias sobre motivação.

CAI O PANO
FIM DO ACTO I


DIVERTISSEMENT MUSICAL
(INTERVALO DE MEIA-HORA PARA SONHAR)


(O Narrador percorre obliquamente o palco até chegar àquele ponto, junto dos cortinados, onde um foco aguarda pacientemente que alguém adentre o seu cone de luz. O velho gramofone foi substituído por uma pequena orquestra de músicos eslavos que produzem no espectador a mesma sensação de estupefacção sentida pelo Prof. Diogo de Abreu face aos violinos magiares a tocarem as Czardas nos restaurantes de Lutecia Parisiorum. Um emigrante do Bangladesh tenta vender uma hipótese de rosas a um casal pindérico que vai entrecruzando a visão da peça com uns beijos que repenicam e ecoam por entre as angustas paredes da viela. No palco, uma escadaria com ademanes de Broadway preenche o fundo da cena. Maslow, vestido com um estranho “fuseau” de Lycra preta aparece no cimo da escadaria, iluminado por um foco colorido que lhe dá um toque de alface e, aos primeiros sons de Schoenberg, irrompe num bailado sincopado que em tudo faz lembrar os “ballets mécaniques” de Fernand Léger. O Narrador prossegue a leitura de outra folha precocemente arrancada a um caderno, não sem antes ter dobrado e guardado cuidadosamente a precedente no regaço.)

NARRADOR

Assisti agora, gentil plateia, ao evoluir de Maslow. Sim, porque hoje, ao contrário do que se poderia supor ou esperar em tão pobre teatro, ireis ver um sem número de vedetas e glórias, de tempos idos e presentes, que, com o sangue e suor dos seus corpos, decidiram apoiar este pobre grémio de comediantes à beira da falência. Por isso, benévolos espectadores, contribuí para, com a prodigalidade e a liberalidade das vossas notas, aumentar a receita de tão singela representação.
(O Narrador enfia as mãos nos bolsos e, com um sorriso nos lábios, procura desesperadamente encontrar um vislumbre de motivação para contribuir nos olhos de uma plateia que, arvorando um esgar de piedade, o vê puxar os bolsos vazios para fora numa eloquente demonstração de penúria. Maslow continua a evoluir.)
Foi no já longínquo ano do Senhor de 1942 que este artista, de cujas evoluções gozades o espectáculo, se lembrou de, tendo de apresentar uma comunicação a uma sociedade psicanalítica e não sabendo como descalçar a bota, fundir num requintado “pot-pourri” uma série de conceitos retirados do pensamento de tão grandes figuras como Freud, Jung, D. M. Levy, Adler, Fromm, Horney e Goldstein. Segundo este cavalheiro, a auto-motivação seria a chave para o cabal preenchimento das humanas necessidades. Contudo, estas obedecem a um esquema fortemente hierarquizado e piramidal, pelo que não se deve confundir o próximo esquema com um panfleto do turismo egípcio. Assim sendo, as necessidades mais idealistas e complexas formam a pedra angular da pirâmide, enquanto o sopé se encontra ocupado pelas necessidades primárias. A pirâmide encontra-se dividida em dois grandes corpos, um primeiro, abrangendo as necessidades primárias, em cujo primeiro patamar se situam aspectos como os que tocam os campos da sobrevivência física; ocupando as preocupações com a segurança e a estabilidade o segundo patamar. O segundo corpo da pirâmide encontra-se divido em três patamares que, ascencionalmente, passam de questões como o reconhecimento e a aceitação sociais, para a noção de respeito próprio, êxito e auto-estima, para, num último esforço, atingir o cume onde o seu interesse é preenchido por conceitos como o da consciência da necessidade de auto-avaliação. Uma vez atingido o cume, o fotógrafo de serviço bate uma chapa destinada a documentar para os vindouros uma tão árdua ascensão.
(Maslow, no topo das escadarias, deixa-se fotografar numa pose indolente provocada pelo cansaço de um percurso ascensional em tudo semelhante aos devaneios dos senhores da Escola mito-crítica.)


Esquema 2: Pirâmide das necessidades de Maslow (ver post seguinte)

(Maslow vai alegremente saltarelando e, no seu “fuseau” negro, subindo as escadas enquanto o Narrador vai, com a ajuda do miraculado ponteiro, explicando aos profanos os solenes e ascensionais mistérios do esquema acima reproduzido. O Narrador, vendo Maslow que estaca no cimo das escadas, prossegue o seu discurso não sem antes ter feito uma vénia à gentil audiência.)

E eis, meus caros senhores, que chegamos à prova dos nove: a Teoria da Hierarquia das Necessidades é um desses becos sem saída que todos nós conhecemos. É um pouco como um desses perpétuos apaixonados que, passando a vida a suspirar e a escrever inúteis peças de teatro sem nunca encontrarem no seu imo essa energia que os leve a confessar a avassaladora paixão que lhes corrói esse relógio de corda que se chama coração, adoptam uma estratégia de aproximação por etapas. Um dia, dia fasto entre os fastos, lá revela o fatal segredo e só então se lembra que já ultrapassou largamente os setenta anos e que deixou de ter uma razão de viver. Assim, nada mais lhe resta a não ser escolher cuidadosamente a corda que lhe irá servir de cabide na primeira árvore que encontrar, não sem antes ter feito testamento ao amor de su vida. Considere o gentil público quão desmotivante seria ficar sem objectivos por nada mais ter a reclamar, pense no tédio que sentiria e tire as suas conclusões.
(A luz que incidia sobre Maslow apaga-se repentinamente. O Narrador, não o vendo, exclama):
Onde vais, ó Maslow que tão presto te apartas do nosso alcance? Retorna ao nosso grémio que chegada é a hora da redenção e em mim encontrarás o grave bordão que te advogará a causa junto de tão augusta plateia! Retorna! Retorna! Retorna!
(E é neste momento de intensidade dramática em que o espectador tenta represar o aquoso fluxo que se apresta a descer-lhe pelas aquilinas faces e em que uma gentil hospedeira, vestida de coelhinha do Playboy, atravessa a plateia vendendo lenços de papel, que, sorridente, por entre os balaústres alabastrinos da escadaria, surge o rosto pálido e tímido de Maslow. O Narrador prossegue):
Ó Farol de verdadeiro saber, pois não foste tu quem, ó fatal maravilha das Ciências Documentais, ao alertar, com o teu avisado juízo, dos perigos inerentes à criação de grupos informais independentes da organização, obtiveste o prodígio de conseguir encasquetar a noção de trabalho de grupo nos gestores e acabaste com os jogos de bridge durante o expediente.
(O foco que incidia sobre Maslow extingue-se definitivamente. Após um breve interregno para meditar sobre o sentido profundo de tão singelo quadro, a cena ilumina-se de rubros alvores, de ambos os lados, com movimentos belicamente orquestrados, dois grupos digladiam-se num expressivo exercício de esgrima. As primeiras notas do Montecchi e Capuleti da Suite nº2 da Op.64 de Prokofiev erguem-se solenes)
Prestai agora atenção, ó ínclita plateia, para os dois grupos que ferinamente combatem e nestes encontrareis a brilhante coreografia de Herzberg. Atentai agora nesses corpos nus que parecem saídos de um filme de Leni Riefenstall! Varrei do vosso espírito as pecaminosas ideias e o influxo da funesta serpe e concentrai-vos por um instante na pureza original da adâmica veste. Ah! Quão belo é, na sua simplicidade o interior do Homem! Sim, porque onde alguns nada mais vêem para além de um triste conjunto de viscerais tripas, eu vejo o factor de motivação, o Homem posto a nu, suado com os ardores do trabalho que o motiva pois acredita encontrar no suor do corpo as doces volúpias da satisfação. Atentai na pujança viril desses corpos quando arremetem, quais novas estátuas do Nacional Estádio, contra esses vultos engravatados que, quando não se defendem do nauseante suor dos atacantes com o felino florete e o vetusto cajado, se catam meticulosamente uns aos outros. À falta de outro nome, chamemo-los factores higiénicos. Atentai como as constrições do ambiente influem tristemente sobre os espíritos dos míseros humanos e, não lhes concedendo as graças da satisfação, os transformam nessas larvas que endogamicamente se catam.
(Um dos homens nus, na sua pujante arremetida enfia o pé num dos buracos. O público explode em sonoras gargalhadas, o Narrador gagueja não percebendo o porquê, o moço que ajuda no palco atravessa a cena quando, de repente, um grito de terror irrompe de todas as gargantas em uníssono. O moço, do fatal florete ferinamente ferido, desfalece e falece. O Narrador grita):
E agora, onde é que eu vou encontrar outro Mercúrio?
(Virando-se para a plateia.)
Queira o gentil público desculpar este pequeno imprevisto, mas se me concederdes um breve intervalo, prometo que tudo se arranjará.
(Voltando-se para o corpo de bailado, em surdina)
Desapareçam daqui antes que os esbirros do Intendente aqui apareçam e me fechem a chafarica. Tomem lá alguns trocos e desapareçam-me da vista! Ah! A propósito, passem pelo ecoponto mais próximo e arquivem-me o cadáver no contentor do orgânico. Vá lá, nada receiem que este não é um desses cadáveres esquisitos que para aí andam em certas traduções.
(O corpo de bailado volatiliza-se e o espectáculo prossegue. O narrador, à parte, com um olhar cúmplice em direcção ao público)
Queira o gentil público desculpar, mas o melhor será concluir oral e rapidamente a ideia de Herzberg para evitar que a polícia chegue enquanto se está a falar do responsável. Ora, a teoria de Herzberg funciona um pouco como a de Maslow. Assim, os factores higiénicos podem ser visto como as necessidades primárias. Com a implementação destes, o gestor procura satisfazer aspectos como a questão salarial, o enquadramento tecnológico, a segurança laboral. Por outro lado, ao abordar a questão dos factores de motivação, o gestor toca em teclas sensíveis como a do reconhecimento profissional e vai criar satisfação junto dos funcionários. Porém, são vários os problemas desta teoria. Em primeiro lugar, a aplicação dos factores de motivação não acarreta obrigatoriamente uma satisfação globalizante pois uma melhoria nas condições de sociabilidade pode provocar insatisfação junto de um colaborador misantropo. Por outro lado, a teoria de Herzberg parte de generalizações e nem sempre é clara. pois a satisfação pode depender, quer do conteúdo do trabalho, quer do ambiente do mesmo, quer de ambos.
(O Narrador surpreendendo um espectador que cochicha com o vizinho.)
O Senhor espectador não deixa de ter razão, esta é uma teoria que, a respeito da motivação, pouco diz, reduzindo a questão aos aspectos da satisfação/insatisfação, ou será que é da desesatisfação? Em todo o caso, é melhor continuar antes que se faça tarde.
Mas, que vejo? Um agente da autoridade deambula por entre a nossa excelsa audiência. Se o senhor agente procura o morto, este já se retirou do nosso convívio.
(O polícia desata a chorar baba e ranho de todo o tamanho, no mais excruciante desespero, enquanto o Narrador interrompe o espectáculo para paternalmente o consolar)
Vá lá, não se preocupe que um dia ainda vai conseguir chegar a tempo ao local do crime. Afinal de contas, nem tudo está perdido pois o vosso choro revela que se encontra motivado para o trabalho mas neste não encontra satisfação. Mas a minha assistente Maria dos Prazeres e Morais pode dar uma ajuda.
(Chama-a e eis que acorre a menina do Playboy que, após ter dado um pacote de lenços de papel e uma afectuosa palmadinha no posterior do agente, lhe dá o braço. Ambos se afastam dançando o Can-can. O espectáculo prossegue.)
Reparai agora nessa figura, de kilt vestida, que olha para a esquerda e para a direita sem saber se deve seguir na direcção X ou Y. Mas, parece que o reconheço. Ora aí está! Gentis Damas, excelsos Cavalheiros, meninos e meninas, tenho a honra de vos apresentar Douglas McGregor. Mas vejamos o que oferecem as duas vias que McGregor, na sua dicotómica escolha, hesita em escolher. Atentai agora nesse vulto cinzento que, qual fantasma de Banquo, entra deslizando pela esquerda. Não é que algum necromante ressuscitou a velha concepção científica do colaborador passivo e preguiçoso! Oh! Cérbero!, que assim deixaste escapar um espírito da Planície dos Narcisos! Porque te desmotivaste? Acaso não encontras satisfação no trabalho? Será o teu um daqueles casos de desesatisfação? Mas treme e teme a tremenda, tonitruante e funesta ira dos divinos esposos gestores do Hades e submete-te ao tríplice juízo dos supervisores Eaco, Minos e Radamanto.
(Voltando-se para o vulto que não lhe responde e permanece em silêncio enquanto o 4º Andamento da Sinfonia Fantástica irrompe pelos ares.)
E tu, porque tornas a ensombrar o mundo dos vivos? Acaso se vivem tempos de neo-liberalismo feroz em que a precaridade destrói o vínculo sagrado que liga o colaborador à instituição? Mas vejo que te contorces e te agitas! Algo te perturba? Acaso não vês que a mobilidade e a flexibilidade que ora ostentas não motiva o nosso ilustre público?
(O Vulto prepara-se para intervir.)
Que a tua boca não pronuncie o fatal discurso e a tua presença não inunde os nossos espíritos do científico rigor!
(Volta-se, em sinal de nojo, para o outro lado do palco. Lentamente, uma criatura jovial vai entrando. A Mère Oie de Ravel plana em círculos concêntricos sobre o palco.)
Mas, que vejo, quem é este vulto de amistosas e amáveis feições que agradavelmente o nosso grémio invade? Reparai agora quão sociável e balsâmico é o nosso novo companheiro. Vede com que graça porta o Y sobre a lapela, com que brio, com que “donaire”, com que garbo. Mas, agora reparo nesse ar confiante e satisfeito de quem se sente responsável, nesse carácter activo, no espírito de iniciativa e no penteado criativo. Mas, que vejo? Não ousa este mísero e mesquinho ofender a doce harmonia do quadro com um atacador de cada cor. Oh! Que desleixo, que anarquia é esta que nos invade a cena e nos agride a estética? Disciplina, um pouco de disciplina. Estou em crer que um cocktail com uma base de mistura deste e do vulto da via X, com algumas gotas de limão, bastante gelo e três gotas de angustura, desde que fosse servido em copos em suporte de vidro, podia ser uma boa ideia para servir no buffet do próximo congresso de qualquer organização de bibliotecários, arquivistas e documentalistas.
(O Vulto da via X, ouvindo falar de si, aproxima-se de Y e, dando-lhe o braço, com ele se afasta. O espectador tem dificuldade em reconhecer Ebony and Ivory de Paul MacCartney e Stevie Wonder, de tal modo X persiste em respeitar os compassos e Y continua a partir em cavalgantes solos. Saem juntos pelo fundo.)
Mas, que vejo, ainda não nos vimos livres destes dois e já outros dois nos entram pela porta dentro. Reparem como discutem acaloradamente, com que sofística veemência procuram puxar a brasa à respectiva sardinha.
(Dois jovens, mascarados de Filóstrato e de Luciano, entram mimando uma acalorada discussão e vão, ora caminhando, ora parando para melhor debater o tema que os ocupa, percorrer toda a área do palco durante a próxima intervenção do narrador. Lentamente, a atenção da esplêndida plateia passa dos dois para uma melodia, inicialmente impossível de identificar mas já cativante, até se perder no meticuloso e preciso dédalo do 1º dos Concerti Grossi de Corelli. É nesse momento que o Narrador prossegue.)
Leio agora nos Vossos rostos a perplexidade por não perceberdes muito bem o que aqui fazem. Não convém aos Vossos serenos fácies a crispação sob pena das rudes rugas repentinamente irromperem nos rostos Vossos. Ah!, mas já me esquecia, estes que assim perplexamente observades, palradores como as Alegres Comadres de Windsor, o perfeito espelho da inocuidade são. Atentai agora nesse vulto canudo que esbraceja furiosamente defendendo o seu entendimento. Reparai com que oratória graça e burilado gesto e expressão este novel Marco Túlio defende o seu Árquias. Reparai na erecta postura e como o superior membro para o empíreo aponta. Este que aqui vedes Alderfer é e a sua glosa reelaborativa de Maslow defende. Não é que este sofista vai partir de Maslow para contestar o velho mestre. Ah! Leio nos Vossos severos rostos a justa repreensão por ousar contestar o Conselho dos Anciãos.
(A Soror Mariana de Dantas atravessa a cena, dirige-se para o Narrador e pergunta-lhe pelo Chamilly. O Narrador encolhe os ombros e, deixando sair o anacrónico pinguim, prossegue o seu monólogo).
Desculpai, com a Vossa elevação, este pequeno imprevisto mas a pobre pensa revestirem as suas necessidades primárias as formas de um capitão de cavalos com os ademanes de um estivador de Alfama. Ah!, a propósito e já que falo de necessidades. Diz este Alderfer serem três as necessidades fundamentais para melhor caracterizar a motivação face ao quotidiano labor. A primeira destas necessidades com a existência se prende e a preservação e satisfação do bem-estar físico cobre. A segunda destas Parcas às necessidades de relacionamento referência faz, e é ver com que maternal efusão embala o desejo de interacção social. A terceira o fio do crescimento fia e neste engloba fibras do desenvolvimento humano e da competência pessoal para obter a satisfação das necessidades de auto-estima, auto-confiança e auto-realização. Mas, que ouço? Os meus tenros pavilhões das palavras ofendidos são! Não destrói este do velho mestre a piramidal estrutura e a ordem da hierarquia baralhar não quer? Pois outro não faz quem da hierarquia pretende a flexibilidade incrementar e, defendendo necessário não ser a ínfima necessidade satisfazer para à superior passar, ao colaborador a graça concede de em múltiplas necessidades se concentrar.
(Chegados a este ponto e vendo um espectador que começa a bocejar, o Narrador vira-se para o outro sofista e prossegue o seu discurso. A gentil plateia, vendo o barthiano Punctum repentinamente cambiar, voluntariamente interrompe o doce bocejar.)
Reparai agora, ó humana gente, na verve e na graça deste jovem eloquente. Atentai como se exprime, com que garbo, com que brio, com que valor, nas hostes inimigas o seu ilustre verbo infunde terror. Mas aproximemo-nos e ouçamos juntos deste novo Catão a diatribe.
(Uma voz ergue-se, profunda e cava, vinda dos bastidores: Quousque tandem abutere, Maslovie, patientia nostra? Para trás o Narrador um salto dá enquanto o previsto terror nas faces da audiência espelho encontra.)
Mas, que profano som o meu doce tímpano assim percute e, qual novel Hipólita, o meu estribo audivelmente cavalga? Mas, agora percebo que de McClelland se trata.
(Virando-se para o público)
Nada temais, ó clara e ilustre testemunha dos nossos cénicos esforços, pois das costumeiras necessidades vamos aqui falar. Ora McClelland a explicação da motivação na teoria das necessidades adquiridas faz assentar para em tríplice porção as enunciar. Se o colaborador na sua actividade um bom profissional ser desejar, da necessidade de realização se deve tratar. Se o colaborador aos seus companheiros de trirreme o ritmo quiser marcar como necessidade de poder se deve indexar. Se, à fraternal távola, com a sua colegiada quiser o colaborador com os seus irmãos socializar a necessidade de afiliação deve o vosso claro espírito identificar. Por de necessidades individualmente aprendidas e ao longo do percurso adquiridas se tratar, na esfera individual do colaborador deve o avisado público meditar.
(Os velhos dos MARRETAS, sentados em cima de uma paragem de autocarro, tecem jocosos comentários entre si.)
Mas agora vejo que duas venerandas figuras da peça o intricado enredo conseguiram antecipar, o que não admira por obra de autor menor se tratar. É verdade que só uma parte das teorias quisemos tratar mas do individual para o geral optamos transitar. Todalas figuras que aqui aquelas teorias do conteúdo que das necessidades ou metas do indivíduo a motivação suficiente procuraram ilustrar haveis visto desfilar. A sua condução iremos agora demonstrar quando das teorias do processo nos ouvirdes discursar.
(Os dois sofistas, ouvindo tais propósitos, retiram-se apressadamente. Entram dinamicamente dois árbitros do COI. Charriots of fire de Vangelis inflamam a cena.)
Mas eis que de Olímpia o cálido vento ao odor de mel e urze pela bênção de Febo fundido às nossas gentes o nobre influxo faz chegar, que vejo já dois juízes olímpicos entrar e com milimétrica precisão a linha da meta determinar. Tão nobres gestos que misteriosos intentos ocultar poderão?
(Entra uma multidão de colaboradores, de fato de treino e gravata, que se alinham de um dos lados do palco. Cada um dos juízes se posiciona do outro lado formando uma linha de meta invisível. Um surrealístico Cherne com uma Uva na boca alaranjada dá o sinal de partida e o galope e o atropelo começam. O Narrador exclama.)
Quão triste é o mester de comediar e ingratas as sortes de quem o público deseja recrear! A minha grave voz que pelas paredes do Globe e da Comédie a glória de Metastasio, Gôngora e Maître Poquelin ressoando difundiu, vê-se, na canuta idade, condenada a produções de terceira ordem onde o jovem bairradino porcino com o mandibular pomo e a anal cenoura é preterido e onde, não podendo pagar a glória do imortal Cherne, recorrem a um Peixe do Imperador (e esta é a sentida homenagem ao mestre da evasão e actual Presidente da Comissão Europeia). Reparai na escamuda carapaça e notai como esta, do vermelho ao laranja cambiando, da argêntea paleta do Cherne a nibelunga graça não possui. Mas desculpai as minhas jeremíades e atentai como se esfalfam os administrativos atletas a tentar melhorar o seu desempenho. Pensai que tudo isto nada mais é do que que a final visão de um longo processo em que os olímpicos ideais de melhor correr e de ir mais longe da motivação a causa foram.
(Quando estão a chegar à meta, o atleta que está em segundo lugar puxa pelos fundilhos do primeiro que, à adâmica veste vendo-se assim reduzido, com a gravata as partes pudibundas tenta cobrir. O novo vencedor recebe o ritual ósculo e a medalhinha de Santo Hilarião o Siríaco e parte feliz com a perspectiva de ver o seu retrato ao lado do do líder pelo eternamente perene espaço de uma semana. O Narrador prossegue.)
Se da Teoria por Objectivos os lentos ecos se vão espraiando pelos labirintos da memória já novos ventos nos trazem o Reforço.
(Entra Pavlov, acompanhado por um molosso que abundantemente se baba. O Narrador prossegue enquanto Pavlov vai deambulando pelo palco sempre seguido pelo cão. A música dos Pavlov’s Dog começa a soar.)
Da pavloviana via a Teoria do Reforço busca a tradição e reduzindo o homem a marioneta o faz viver uma bem mísera condição. Do canino exemplo o condicionado reflexo herdando, a dura lei de repetir ou não comportamentos vai postulando. E de Skinner os quatro princípios invocar para um sistema de penas, punições e condições edificar.
(O Narrador, apercebendo-se que o cão vai alagando o palco de baba e urinou para os cortinados, acelera o ritmo e apressa-se a concluir.)
São quatro as estratégias para melhor condicionar: se um reforço positivo se procurar obter da frequência do comportamento desejável o aumento se deve procurar; se um comportamento indesejável se procura evitar, a sua intensidade se deve aumentar; se um comportamento indesejável se pretende eliminar uma punição se deve aplicar e, se um comportamento desagradável procuras diminuir uma consequência agradável deves extinguir.
(O Narrador vendo no molosso um súbito interesse pela sua perna, retira um naco de presunto do bolso e atira-o para os bastidores. O cão e Pavlov, condicionados pela fome, correm para fora do palco. Entra uma alegórica justiça, com a costumeira venda e a espada e a balança na mão, que, entre os tropeções devidos à longa túnica, lá vai, “tant bien que mal”, percorrendo o palco em todos os sentidos. A música cessa perante tão nobre aparição.)
De referências comparativas a Teoria da Equidade parte para um sistema de recompensas criar. Das pessoas as contribuições procurando escalonar em semelhantes condições se devem estas observar. E eu à barbárica expressão benchmarking me poderia cingir se do verbo o esplendor não desejasse ver florir.
(A Justiça cai do estrado abaixo e parte os ditos cujos. Money makes the world go round começa a soar tocada por uma orquestra de Cabaret. Imediatamente se precipitam quatro espectadores. O primeiro a chegar pega nela ao colo e senta-a em cima de um barril de amontillado que se encontrava a passear por ali. O segundo e o terceiro levam-lhe a balança e a espada. O último recolhe a venda. A Justiça, recompostas a dignidade perdida e venda, a todos recompensa. O Narrador prossegue.)
Com a desastrosa queda quis o acaso propiciar o ensejo para da aplicação da justiça o meu verbo a glória do vil metal cantar. Reparai na recompensa que a todos dada é, mas o primeiro leva 10 dobrões, o segundo e o terceiro 3 cada um e ao quarto espera apenas um. Em verdade em verdade vos digo que a cada um será dado segundo o seu mérito.
(Em surdina, fazendo uma vénia para os espectadores.)
Acho que já li isto em algum sítio!
(Retomando a voz normal, o Narrador retira o enésimo papel do peito e, depois de os juntar cuidadosamente, os coloca, em monte, a seus pés. Vladimir e Estragon esperam numa paragem de autocarro. Um Vroom, Vroom do tráfego vai-se sentindo de tempos a tempos. O Narrador vira-se e prossegue.)
Que Vroom-Vroom este é que aos nossos ouvidos ofende e a quieta paz destes sublimes locais perturba? Das gentes o buliçoso passar acaso este boato levantará? Os longos pavilhões estiquemos e logo algumas partes compreenderemos. Dizem uns que quem espera sempre alcança, outros que algo desejar motiva para o esforço realizar afirmam. Mas, que ouço? Que profana e ínfima baixeza feroz o meu sentir assim fere? Alguém ousa reclamar a recompensa? Ó Homens de tempos idos em que se fazia o Bem pelo prazer da recta via, chorai comigo estes tempos em que a esperança desinteressada pelo interesse mesquinho se vê mudada. O tempora o mores!
(Vladimir e Estragon continuam à espera do autocarro. O Vroom, Vroom continua.)
Mas ouçamos que teoria pretendem desenrolar ao tentar uma tal ideia sustentar. Dizem estes as pessoas acreditar uma relação entre o esforço e o desempenho existir, que o bom desempenho deve conduzir a uma recompensa e que esta serve para satisfazer os pessoais objectivos. E sobre a canónica expectativa, a ordinária instrumentalidade e a auto-avaliação pretendeis edificar a vossa ideia? Mas não vedes, ó vós que assim bramais, que uma tal teoria não pode ser geral? Que as diferenças de visão da humana gente a tornam contingêncial?
(E quando o narrador se preparava para improvisar o final da tirada que os autores não tiveram a pachorra de escrever vê os seus intentos gorados pela entrada em cena de uma tão estranha quanto inesperada figura. Um samurai faz o seu ingresso rodopiando e fazendo voltear a sua catana em todas as direcções. Vladimir e Estragon fogem apavorados. O Samurai estaca repentinamente enquanto as titilantes notas da harpa de Kitaro começam a fazer-se sentir.)
Ó vós que do Mestre Lu dos enigmas tendes a figura, como ousais com a vil e viril virulência violar o vítreo valor da minha transparente tirada?
(O Samurai irrompe em movimentos giratórios e, chegando-se ao Narrador, com uma sucessão de golpes de espada reduz o monte dos manuscritos a um monte de tiras. Com um movimento ritual guarda a espada, recolhe meticulosamente todas as tiras, afasta-se com estas, senta-se e desata num lento origami. O Narrador surpreso, abre a boca em sinal de reconhecimento ao ver o Samurai das tiras de papel conseguir elaborar um exemplar do Theory Z: How American Business Can Meet the Japanese Challenge que vem mostrar à boca da cena.)
Mestre Ouchi, flor de lótus amarelo, que estranhos vapores de ópio a nós encobriram a Vossa vinda? Que a grande graça gloriosamente governe os desígnios da Vossa estirpe até à décima-quinta geração e três quartos pela honra que hoje magnanimamente nos concedeis ao iluminardes este tugúrio com a Vossa refulgente estrela.
(Três minutos de interrupção para troca de vénias. A menina do Playboy aproveita para vender pipocas. O polícia volta a aparecer transformado em vendedor de couratos e bandeiras do SLB.)
Repousai por um pouco a carne Vossa que da viagem as agruras a distância alarga. Deixai que, com a clarividente iluminação Vossa, eu expor possa à nossa gentil plateia a ideia Vossa.
(Ouchi faz mais uma sucessão de vénias. O Narrador prossegue.)
No saber nipónico cimentada concebeu Mestre Ouchi a teoria Z. Ao massificado individualismo que em terras do Novo Mundo grassa contrapõe Mestre Ouchi a tendência colectivizante de terras do Sol Nascente. Tendo passado da feudal idade para a industrial era, o empresário o Shogun substituiu ao oferecer segurança no trabalho, protecção e rendimento. De McGregor a honra venerada dicotómica foi a teoria formulada. As organizações do tipo A da tarefa a curto termo partidárias são. Dos funcionários é ingente a rotação, curta a avaliação e como Pégaso veloz a promoção. Mas a veloz promoção, consumindo a dura fibra das etapas, insegurança produz. Mas uma veloz rotação consigo traz a especialização. E a especialização à norma os preceitos obedecer faz pois ao gestor do profissionalismo a segurança apraz. Do trabalho a longo termo as organizações do tipo Z perfilham os ideais. Sentida a segurança para o tempo de uma vida laborar, o colaborador tenta o topo alcançar. Do despótico comando a solução afastada, a decisão participativa procuram atingir. Mas se a decisão e a responsabilidade consensuais tensões podem causar não serão estas mesmas do grémio a causa de uma coesão impar. Da holística preocupação com os colaboradores a organização Z se pode gabar pois o bem estar destes procura implementar e, a informalidade das relações defendendo, uma mais fácil sinergia vai obtendo.
(O Narrador faz uma vénia e prepara-se para a retirada quando um franzir de sobrolhos do Samurai o faz voltar ao seu lugar.)
Ah! Mas perdoai a um pobre velho a quem as cãs e da idade o ingente peso tristes partidas pregam. Do justo corolário a teoria necessita para que em Vossos espíritos a preclara ideia se espelhe. Não devem as organizações que à excelência motivacional miram seguir cegamente uma das vias não devem mas no largo desfiladeiro que entre as duas se espraia se devem sem mais delongas embrenhar. Pois quem nos meandros dessa oscura selva se internar à visão igualitária há-de chegar.
(O Narrador retira-se por entre salamaleques e vénias)

CAI O PANO
FIM DO DIVERTISSEMENT MUSICAL


ACTO II


(O pano ergue-se sobre uma cena enevoada onde um vulto se detêm em frente de uma trípode fumegante. Uma mulher que já não sabia a idade encontra-se sentada e mira o fogo enquanto, numa língua incompreensível pronuncia o fatal oráculo. O Narrador entra e, vendo o tétrico quadro, exclama.)
NARRADOR
Mas, que vejo? Que tetra visão a luz do meu espírito assim varre? Ó Vós que da autoria desta peça Vos gabais, como ousais o santuário das Letras profanar? Porque à Ademiana Sibila recorreis? Acaso pensais que o justo fluir desta peça a uma intervenção sibilar dever se possa? Pensai e do horaciano burilar o labor ilustre a divina possessão! Mas mesmo não acreditando no sibilino poder o ademiano oráculo desejo conhecer. Mas, que ouço? Por uma vez a divina criatura um bom conselho Vos deu. Mas, agora penso, do peso argênteo do óbolo os Vossos bolsos a preclara vidente seguramente aliviou? Mas ide e em longas entrevistas o clarividente verbo recolhei!
(O Autor pega nos tarecos e sai pelo fundo com um ar motivado.)
Ó dura e triste sina de noveis escritores o verbo dever representar! Ó fadiga imane de aos caprichos e hesitações de aprendizes de feiticeiro ter de na canuta idade obedecer!
(Voltando-se para o público com um ar cúmplice.)
Ó Vós, companheiros da desdita minha que a rudeza do argumento pacientemente suportais, o Vosso testemunho invoco junto do Supremo Tribunal das Musas! Que a fulmínea justiça de Zeus os nossos posteriores esturricar não possa quando às escarpas do Parnaso acedermos. Mas, ó Jove cuja sapiência das tetas de Amalteia em tenra idade sugaste, perdoai este aventureiro e que o Vosso fulgor atingir não possa quem já fulminado é de natura.
(O Autor volta a entrar em cena e, depois de algumas palavras breves, entrega ao narrador três folhas. O Narrador, depois de dar uma vista de olhos, fixa a audiência, fita o empíreo e, depois de um inaudível solilóquio com Zeus, em tom decisório proclama.)
Não querendo o recto verbo com a barroca prosa deste escrito contaminar, julgamos oportuno as entrevistas anexar (por motivos éticos e conterem nomes de pessoas foram retiradas - Aqui ninguém pertence à Fundação KIM IL SOARES). Só assim a justa ira que do Olimpo ora desce se poderá deter e a salvação deste desgraçado se poderá obter. Mas, para que da inconsequência da farsa não se possa o espectador queixar, à Vossa contribuição quero apelar. Durante o intervalo que se segue, a minha assistente com profissional rigor vai os textos das entrevistas nas Vossas ínclitas mãos pôr.
(O Narrador retira-se enquanto Maria dos Prazeres e Morais, no seu disfarce de coelhinha, distribui programas, beijinhos, pipocas e outras coisas boas. A multidão, sôfrega de saber, procura nos programas recuperar a informação.)
CAI O PANO
FIM DO ACTO II

ACTO III


(A cena apresenta-se despojada de qualquer adereço. O Narrador entra e, depois de ocupar uma posição central no palco, dirige-se directamente ao público.)
NARRADOR
Seguro estando que a Vossa sagaz previdência durante o intervalo o programa devorou e as generosas curvas da minha assistente tranquilas deixou, avançar posso para da inquisitória actividade os resultados submeter ao escolástico parecer.
(Em tom cúmplice)
Confidenciou-me o Autor desta farsa a sua aflição por dos inquiridos a resposta tardar em chegar. Coisas de jovens! São novos, não pensam e vox populi vox dei: «Quando a cabeça não tem juízo, o corpo é que paga!» De correr sentiram a necessidade para dois inquéritos poder apresentar, mas a qualidade impôs-se sobre a quantidade. O critério seguido foi o de apresentar do mester a opinião de profissionais em diferentes pontos da carreira. De fonte segura obtive a certeza de ter o Autor procurado cobrir os vários patamares do duro ofício. Mas, madrasta foi a fortuna para os audazes e, da Eneida não bebendo a cristalina linfa, do dual resultado mais para além não foi. Quis o pobre descorçoado desistir da dura demanda que em torno do motivacional saber ora se agita. Mas o dever alçou a sua nobre voz e, com a gravidade solene que sempre usa na lapela do fato domingueiro, qual Séneca assim falou: «Ó Vós que do motivacional saber na demanda inútil satisfação procurais, porque vos deixais o espírito turvar com os negros influxos de aziaga jornada? Acaso não sabeis que se nem sempre a fortuna as suas graças concede aos audazes, menos verdade não é que a necessidade aguça o engenho? Porque chorais? Porque da cinérea substância os Vossos já provados bestuntos aspergis? Porque dos capilosos apêndices as raízes extirpais e das mercenárias carpideiras os prantos encomendais? Na dual resposta a solução procurai e com de Palas o influxo o resultado apresentai!» O Autor tremente e temente escapa para um lado e a correr debruçar se vai sobre as inquisitoriais demandas.
(Retomando o assunto, após este breve mas elevado interlúdio, o Narrador assume uma pose de Magister diante de uma tela onde as sombras chinesas das entrevistadas se vão projectar.)
Uma competente mas novel profissional qual vítima sacrificial ao inquisitório altar conduzida foi. Da idade o voluntarismo mitigado por dois anos de lavorativo experimento o retrato obtido foi cabal. Se a motivação é do seu discurso a nota fundamental, algumas pequenas notas ensombram a idílica perspectiva. Um dos aspectos que esta bucólica paisagem vão obnubilar prende-se com a inoperância egualitária da função pública sendo a entrevistada partidária de um sistema de recompensas tão à maneira das teorias da equidade e das expectativas. Por outro lado, a criação de uma mentalidade empresarial pública e privada que seriamente aposte na formação defende. Não deixando de salientar da instituição o cuidado em as contas pagar, o reparo à falta de incentivos não deixar de preocupar. Outros dois aspectos que do justo relevo dignos são com a função do bibliotecário e o papel do gestor/chefe/leader revelam a sua condição. A visão do bibliotecário toupeira que, por detrás dos seus garrafais óculos, qual ácaro que do livresco pó a sua substância vai retirando ultrapassada está. O bibliotecário o trabalho não deve temer e do cinéreo pó a espessa camada deve remover. Desempoeirado e com um Y ao peito deve o bibliotecário ser capaz de funções delegar e orientar, de com os colaboradores falar para os resultados optimizar e a justa dinâmica deve instituir se clientes à sua instituição quer ver afluir.
À luxuriante e científica biblioteca foram os autores arrancar a outra vítima a sacrificar. Mas, por de um patamar diverso se tratar algumas diferenças iremos encontrar. Do juvenil entusiasmo da primeira dissipados os fumos estão pela convicção da falta de reconhecimento social tão cara a Maslow, Herzberg e à teorias Y são. Igualmente contrariada é a tendência para a recompensa. À distinção entre reconhecimento e recompensa procedendo, para os perigos para a coesão da equipe da última alerta. Mas a grande nota vai para uma aproximação às humanísticas ideias do Ouchi de Z e do McGregor de Y. Um líder deve ser capaz de motivar e de, num ambiente de coesão, criar as condições para o trabalho efectuar. Assim, a recompensa e os atritos deve afastar e na sua equipe e no comum projecto confiança depositar.
(O Público desata numa apoteótica ovação a que o Narrador vai agradecendo enquanto se vai retirando.

CAI O PANO
FIM DO ACTO III


MORALIDADE

NARRADOR
Da Vossa ilustre paciência abusar quisemos e com o ilustre verbo demonstrar que com um pouco de bom-senso e boa-vontade as teorias subjectivas vãs são. Pelo que se assim o duro labor quisemos nomear foi por o shakespeariano título não querermos plagiar. Pois da polissemia do conceito a terrífica discussão, se numa expressão quiséssemos sintetizar, de Muito barulho por nada poderíamos falar.

Léo Ferré




IL N'Y A PLUS RIEN

Ecoute, écoute... Dans le silence de la mer, il y a comme un balancement maudit qui vous met le coeur à l'heure, avec
le sable qui se remonte un peu, comme les vieilles putes qui remontent leur peau, qui tirent la couverture.

Immobile... L'immobilité, ça dérange le siècle. C'est un peu le sourire de la vitesse, et ça sourit pas lerche, la vitesse,
en ces temps.
Les amants de la mer s'en vont en Bretagne ou à Tahiti...
C'est vraiment con, les amants.

IL n'y a plus rien

Camarade maudit, camarade misère...
Misère, c'était le nom de ma chienne qui n'avait que trois pattes.
L'autre, le destin la lui avait mise de côté pour les olympiades de la bouffe et des culs semestriels qu'elle accrochait
dans les buissons pour y aller de sa progéniture.
Elle est partie, Misère, dans des cahots, quelque part dans la nuit des chiens.
Camarade tranquille, camarade prospère,
Quand tu rentreras chez toi
Pourquoi chez toi ?
Quand tu rentreras dans ta boîte, rue d'Alésia ou du Faubourg
Si tu trouves quelqu'un qui dort dans ton lit,
Si tu y trouves quelqu'un qui dort
Alors va-t-en, dans le matin clairet
Seul
Te marie pas
Si c'est ta femme qui est là, réveille-la de sa mort imagée

Fous-lui une baffe, comme à une qui aurait une syncope ou une crise de nerfs...
Tu pourras lui dire :"T'as pas honte de t'assumer comme ça dans ta liquide sénescence.
Dis, t'as pas honte ? Alors qu'il y a quatre-vingt-dix mille espèces de fleurs ?
Espèce de conne !
Et barre-toi !
Divorce-la
Te marie pas !
Tu peux tout faire :
T'empaqueter dans le désordre, pour l'honneur, pour la conservation du titre...

Le désordre, c'est l'ordre moins le pouvoir !

Il n'y a plus rien

Je suis un nègre blanc qui mange du cirage
Parce qu'il se fait chier à être blanc, ce nègre,
Il en a marre qu'on lui dise : " Sale blanc !"

A Marseille, la sardine qui bouche le Port
Etait bourrée d'héroïne
Et les hommes-grenouilles n'en sont pas revenus...
Libérez les sardines
Et y'aura plus de mareyeurs !

Si tu savais ce que je sais
On te montrerait du doigt dans la rue
Alors il vaut mieux que tu ne saches rien
Comme ça, au moins, tu es peinard, anonyme, Citoyen !

Tu as droit, Citoyen, au minimum décent
A la publicité des enzymes et du charme
Au trafic des dollars et aux traficants d'armes
Qui traînent les journaux dans la boue et le sang
Tu as droit à ce bruit de la mer qui descend
Et si tu veux la prendre elle te fera du charme
Avec le vent au cul et des sextants d'alarme
Et la mer reviendra sans toi si tu es méchant

Les mots... toujours les mots, bien sûr !
Citoyens ! Aux armes !
Aux pépées, Citoyens ! A l'Amour, Citoyens !
Nous entrerons dans la carrière quand nous aurons cassé la gueule à nos ainés !
Les préfectures sont des monuments en airain... un coup d'aile d'oiseau ne les entame même pas... C'est vous dire !

Nous ne sommes même plus des juifs allemands
Nous ne sommes plus rien

Il n'y a plus rien

Des futals bien coupés sur lesquels lorgnent les gosses, certes !
Des poitrines occupées
Des ventres vacants
Arrange-toi avec ça !

Le sourire de ceux qui font chauffer leur gamelle sur les plages reconverties et démoustiquées
C'est-à-dire en enfer, là où Dieu met ses lunettes noires pour ne pas risquer d'être reconnu par ses admirateurs
Dieu est une idole, aussi !
Sous les pavés il n'y a plus la plage
Il y a l'enfer et la Sécurité
Notre vraie vie n'est pas ailleurs, elle est ici
Nous sommes au monde, on nous l'a assez dit
N'en déplaise à la littérature

Les mots, nous leur mettons des masques, un bâillon sur la tronche
A l'encyclopédie, les mots !
Et nous partons avec nos cris !
Et voilà !

Il n'y a plus rien... plus, plus rien


Je suis un chien ?
Perhaps !
Je suis un rat
Rien

Avec le coeur battant jusqu'à la dernière battue

Nous arrivons avec nos accessoires pour faire le ménage dans la tête des gens :
"Apprends donc à te coucher tout nu !
"Fous en l'air tes pantoufles !
"Renverse tes chaises !
"Mange debout !
" Assois-toi sur des tonnes d'inconvenances et montre-toi à la fenêtre en gueulant des gueulantes de principe

Si jamais tu t'aperçois que ta révolte s'encroûte et devient une habituelle révolte, alors,
Sors
Marche
Crève
Baise
Aime enfin les arbres, les bêtes et détourne-toi du conforme et de l'inconforme
Lâche ces notions, si ce sont des notions
Rien ne vaut la peine de rien

Il n'y a plus rien... plus, plus rien

Invente des formules de nuit: CLN... C'est la nuit !
Même au soleil, surtout au soleil, c'est la nuit
Tu peux crever... Les gens ne retiendront même pas une de leur inspiration.
Ils canaliseront sur toi leur air vicié en des regrets éternels puant le certificat d'études et le cathéchisme ombilical.
C'est vraiment dégueulasse
Ils te tairont, les gens.
Les gens taisent l'autre, toujours.
Regarde, à table, quand ils mangent...
Ils s'engouffrent dans l'innomé
Ils se dépassent eux-mêmes et s'en vont vers l'ordure et le rot ponctuel !

La ponctuation de l'absurde, c'est bien ce renversement des réacteurs abdominaux, comme à l'atterrissage : on rote
et on arrête le massacre.
Sur les pistes de l'inconscient, il y a des balises baveuses toujours un peu se souvenant du frichti, de l'organe, du repu.

Mes plus beaux souvenirs sont d'une autre planète
Où les bouchers vendaient de l'homme à la criée

Moi, je suis de la race ferroviaire qui regarde passer les vaches
Si on ne mangeait pas les vaches, les moutons et les restes
Nous ne connaîtrions ni les vaches, ni les moutons, ni les restes...
Au bout du compte, on nous élève pour nous becqueter
Alors, becquetons !
Côte à l'os pour deux personnes, tu connais ?

Heureusement il y a le lit : un parking !
Tu viens, mon amour ?
Et puis, c'est comme à la roulette : on mise, on mise...
Si la roulette n'avait qu'un trou, on nous ferait miser quand même
D'ailleurs, c'est ce qu'on fait !
Je comprends les joueurs : ils ont trente-cinq chances de ne pas se faire mettre...
Et ils mettent, ils mettent...
Le drame, dans le couple, c'est qu'on est deux
Et qu'il n'y a qu'un trou dans la roulette...

Quand je vois un couple dans la rue, je change de trottoir

Te marie pas
Ne vote pas
Sinon t'es coincé

Elle était belle comme la révolte
Nous l'avions dans les yeux,
dans les bras dans nos futals
Elle s'appelait l'imagination

Elle dormait comme une morte, elle était comme morte
Elle sommeillait
On l'enterra de mémoire

Dans le cocktail Molotov, il faut mettre du Martini, mon petit !

Transbahutez vos idées comme de la drogue... Tu risques rien à la frontière
Rien dans les mains
Rien dans les poches

Tout dans la tronche !

- Vous n'avez rien à déclarer ?
- Non.
- Comment vous nommez-vous ?
- Karl Marx.
- Allez, passez !

Nous partîmes... Nous étions une poignée...
Nous nous retrouverons bientôt démunis, seuls, avec nos projets d'imagination dans le passé
Ecoutez-les... Ecoutez-les...
Ca rape comme le vin nouveau
Nous partîmes... Nous étions une poignée
Bientôt ça débordera sur les trottoirs
La parlotte ça n'est pas un détonateur suffisant
Le silence armé, c'est bien, mais il faut bien fermer sa gueule...
Toutes des concierges !
Ecoutez-les...

Il n'y a plus rien

Si les morts se levaient ?
Hein ?

Nous étions combien ?
Ca ira !

La tristesse, toujours la tristesse...

Ils chantaient, ils chantaient...
Dans les rues...

Te marie pas Ceux de San Francisco, de Paris, de Milan
Et ceux de Mexico
Bras dessus bras dessous
Bien accrochés au rêve

Ne vote pas


0 DC8 des Pélicans
Cigognes qui partent à l'heure
Labrador Lèvres des bisons
J'invente en bas des rennes bleus
En habit rouge du couchant
Je vais à l'Ouest de ma mémoire
Vers la Clarté vers la Clarté

Je m'éclaire la Nuit dans le noir de mes nerfs
Dans l'or de mes cheveux j'ai mis cent mille watts
Des circuits sont en panne dans le fond de ma viande
J'imagine le téléphone dans une lande
Celle où nous nous voyons moi et moi
Dans cette brume obscène au crépuscule teint
Je ne suis qu'un voyant embarrassé de signes
Mes circuits déconnectent
Je ne suis qu'un binaire

Mon fils, il faut lever le camp comme lève la pâte
Il est tôt Lève-toi Prends du vin pour la route
Dégaine-toi du rêve anxieux des biens assis
Roule Roule mon fils vers l'étoile idéale
Tu te rencontreras Tu te reconnaîtras
Ton dessin devant toi, tu rentreras dedans
La mue ça ses fait à l'envers dans ce monde inventif
Tu reprendras ta voix de fille et chanteras Demain
Retourne tes yeux au-dedans de toi
Quand tu auras passé le mur du mur
Quand tu auras autrepassé ta vision
Alors tu verras rien

Il n'y a plus rien

Que les pères et les mères
Que ceux qui t'ont fait
Que ceux qui ont fait tous les autres
Que les "monsieur"
Que les "madame"
Que les "assis" dans les velours glacés, soumis, mollasses
Que ces horribles magasins bipèdes et roulants
Qui portent tout en devanture
Tous ceux-là à qui tu pourras dire :

Monsieur !
Madame !

Laissez donc ces gens-là tranquilles
Ces courbettes imaginées que vous leur inventez
Ces désespoirs soumis
Toute cette tristesse qui se lève le matin à heure fixe pour aller gagner VOS sous,
Avec les poumons resserrés
Les mains grandies par l'outrage et les bonnes moeurs
Les yeux défaits par les veilles soucieuses...
Et vous comptez vos sous ?
Pardon.... LEURS sous !

Ce qui vous déshonore
C'est la propreté administrative, écologique dont vous tirez orgueil
Dans vos salles de bains climatisées
Dans vos bidets déserts
En vos miroirs menteurs...

Vous faites mentir les miroirs
Vous êtes puissants au point de vous refléter tels que vous êtes
Cravatés
Envisonnés
Empapaoutés de morgue et d'ennui dans l'eau verte qui descend
des montagnes et que vous vous êtes arrangés pour soumettre
A un point donné
A heure fixe
Pour vos narcissiques partouzes.
Vous vous regardez et vous ne pouvez même plus vous reconnaître
Tellement vous êtes beaux
Et vous comptez vos sous
En long
En large
En marge
De ces salaires que vous lâchez avec précision
Avec parcimonie
J'allais dire "en douce" comme ces aquilons avant-coureurs et qui
racontent les exploits du bol alimentaire, avec cet apparat vengeur
et nivellateur qui empêche toute identification...
Je veux dire que pour exploiter votre prochain, vous êtes les
champions de l'anonymat.

Les révolutions ? Parlons-en !
Je veux parler des révolutions qu'on peut encore montrer
Parce qu'elles vous servent,
Parce qu'elles vous ont toujours servis,
Ces révolutions de "l'histoire",
Parce que les "histoires" ça vous amuse, avant de vous interesser,
Et quand ça vous intéresse, il est trop tard, on vous dit qu'il s'en prépare une autre.
Lorsque quelque chose d'inédit vous choque et vous gêne,
Vous vous arrangez la veille, toujours la veille, pour retenir une place
Dans un palace d'exilés, entouré du prestige des déracinés.
Les racines profondes de ce pays, c'est Vous, paraît-il,
Et quand on vous transbahute d'un "désordre de la rue", comme vous dites,
à un "ordre nouveau" comme ils disent, vous vous faites greffer au retour et on vous salue.

Depuis deux cent ans, vous prenez des billets pour les révolutions.
Vous seriez même tentés d'y apporter votre petit panier,
Pour n'en pas perdre une miette, n'est-ce-pas ?
Et les "vauriens" qui vous amusent, ces "vauriens" qui vous dérangent aussi,
on les enveloppe dans un fait divers pendant que vous enveloppez les "vôtres" dans un drapeau.

Vous vous croyez toujours, vous autres, dans un haras !
La race ça vous tient debout dans ce monde que vous avez assis.
Vous avez le style du pouvoir
Vous en arrivez même à vous parler à vous-mêmes
Comme si vous parliez à vos subordonnés,
De peur de quitter votre stature, vos boursouflures, de peur qu'on vous montre du doigt,
dans les corridors de l'ennui, et qu'on se dise : "Tiens, il baisse, il va finir par se plier, par ramper"
Soyez tranquilles ! Pour la reptation, vous êtes imbattables ; seulement, vous ne vous la concédez
que dans la métaphore... Vous voulez bien vous allonger mais avec de l'allure,
Cette "allure" que vous portez, Monsieur, à votre boutonnière,
Et quand on sait ce qu'a pu vous coûter de silences aigres,
De renvois mal aiguillés
De demi-sourires séchés comme des larmes,
Ce ruban malheureux et rouge comme la honte dont vous ne vous êtes jamais décidé à empourprer
votre visage,
Je me demande comment et pourquoi la Nature met
Tant d'entêtement,
Tant d'adresse
Et tant d'indifférence biologique
A faire que vos fils ressemblent à ce point à leurs pères,
Depuis les jupes de vos femmes matrimoniaires
Jusqu'aux salonnardes équivoques où vous les dressez à boire,
Dans votre grand monde,
A la coupe des bien-pensants.

Moi, je suis un bâtard.
Nous sommes tous des bâtards.
Ce qui nous sépare, aujourd'hui, c'est que votre bâtardise à vous est sanctionnée par le code civil
Sur lequel, avec votre permission, je me plais à cracher, avant de prendre congé.
Soyez tranquilles, Vous ne risquez Rien

Il n'y a plus rien

Et ce rien, on vous le laisse !
Foutez-vous en jusque-là, si vous pouvez,
Nous, on peut pas.
Un jour, dans dix mille ans,
Quand vous ne serez plus là,
Nous aurons TOUT
Rien de vous
Tout de nous
Nous aurons eu le temps d'inventer la Vie, la Beauté, la Jeunesse,
Les Larmes qui brilleront comme des émeraudes dans les yeux des filles,
Le sourire des bêtes enfin détraquées,
La priorité à Gauche, permettez !

Nous ne mourrons plus de rien
Nous vivrons de tout

Et les microbes de la connerie que nous n'aurez pas manqué de nous léguer, montant
De vos fumures
De vos livres engrangés dans vos silothèques
De vos documents publics
De vos réglements d'administration pénitenciaire
De vos décrets
De vos prières, même,
Tous ces microbes...
Soyez tranquilles,
Nous aurons déjà des machines pour les révoquer

NOUS AURONS TOUT

DANS DIX MILLE ANS

Le conditionnel de variétés

Je ne suis qu'un artiste de Variétés et ne peux rien dire qui ne puisse être dit "de variétés", car on pourrait me reprocher de parler de choses qui ne me regardent pas.

Comme si je vous disais qu'un premier ministre britannique ou bien papou ou bien d'ailleurs pouvait être déclaré incompétent

Comme si je vous disais qu'un ministre de l'Intérieur d'une République lointaine ou plus présente pouvait être une canaille

Comme si je vous disais que les cadences chez Renault sont exténuantes

Comme si je vous disais que les cadences exténuent les ouvriers, jamais les présidents

Comme si je vous disais que l'humiliation devrait pourtant s'arrêter devant ces femmes des industries chimiques avec leurs doigts bouffés aux acides et leurs poumons en rade

Comme si je vous disais qu'à Tourcoing et plus généralement dans le textile, en ce moment, ça licencie facile

Comme si je vous disais qu'il pourrait peut-être exister un prisonnier politique qu'on aurait jugé pour la forme

Comme si je vous disais que je pourrais suivre dans la rue ce procureur qui regarde avec l'eau dans la bouche le ventre d'une enfant mineure

Comme si je vous disais que ce procureur pourrait être celui qui aurait pu requérir contre ce prisonnier politique qu'on aurait jugé pour la forme.

Comme si je vous disais qu'un intellectuel peut descendre dans la rue et vendre le journal

Comme si je vous disais que ce journal est un journal qu'on aurait pu interdire

Comme si je vous disais que le pays qui s'en prend à la liberté de la presse est un pays au bord du gouffre

Comme si je vous disais que ce journal qui aurait pu être interdit par ce pays au bord du gouffre pourrait peut-être s'appeler La Cause du Peuple

Comme si je vous disais que le gouvernement intéressé par ce genre de presse d'opposition pourrait sans doute s'imaginer qu'il n'y a ni cause ni peuple

Comme si je vous disais que dans le cas bien improbable où l'on interdirait le journal La Cause du Peuple, il faudrait l'acheter et le lire

Comme si je vous disais qu'il faudrait alors en parler à vos amis

Comme si je vous disais que les amis de vos amis peuvent faire des millions d'amis

Comme si je vous disais d'aller tous ensemble faire la révolution

Comme si je vous disais que la révolution c'est peut-être une variété de la politique

Et je ne vous dis rien qui ne puisse être dit de "variétés", moi qui ne suis qu'un artiste de Variétés


Poète ... vos papiers

Bipède volupteur de lyre
Epoux châtré de Polymnie
Vérolé de lune à confire
Grand-Duc bouillon des librairies
Maroufle à pendre à l'hexamètre
Voyou décliné chez les Grecs
Albatros à chaîne et à guêtres
Cigale qui claque du bec

Poète, vos papiers !
Poète, vos papiers !

J'ai bu du Waterman et j'ai bouffé Littré
Et je repousse du goulot de la syntaxe
A faire se pâmer les précieux à l'arrêt
La phrase m'a poussé au ventre comme un axe

J'ai fait un bail de trois six neuf aux adjectifs
Qui viennent se dorer le mou à ma lanterne
Et j'ai joué au casino les subjonctifs
La chemise à Claudel et les cons dits « modernes »

Syndiqué de la solitude
Museau qui dévore du couic
Sédentaire des longitudes
Phosphaté des dieux chair à flic
Colis en souffrance à la veine
Remords de la Légion d'honneur
Tumeur de la fonction urbaine
Don Quichotte du crève-coeur

Poète, vos papiers !
Poète, Papier !

Le dictionnaire et le porto à découvert
Je débourre des mots à longueur de pelure
J'ai des idées au frais de côté pour l'hiver
A rimer le bifteck avec les engelures

Cependant que Tzara enfourche le bidet
A l'auberge dada la crotte est littéraire
Le vers est libre enfin et la rime en congé
On va pouvoir poétiser le prolétaire

Spécialiste de la mistoufle
Emigrant qui pisse aux visas
Aventurier de la pantoufle
Sous la table du Nirvana
Meurt-de-faim qui plane à la Une
Ecrivain public des croquants
Anonyme qui s'entribune
A la barbe des continents

Poète, vos papiers !
Poète, documenti !

Littérature obscène inventée à la nuit
Onanisme torché au papier de Hollande
Il y a partouze à l'hémistiche mes amis
Et que m'importe alors Jean Genet que tu bandes

La poétique libérée c'est du bidon
Poète prends ton vers et fous-lui une trempe
Mets-lui les fers aux pieds et la rime au balcon
Et ta muse sera sapée comme une vamp

Citoyen qui sent de la tête
Papa gâteau de l'alphabet
Maquereau de la clarinette
Graine qui pousse des gibets
Châssis rouillé sous les démences
Corridor pourri de l'ennui
Hygiéniste de la romance
Rédempteur falot des lundis

Poète, vos papiers !
Poète, salti !

Que l'image soit rogue et l'épithète au poil
La césure sournoise certes mais correcte
Tu peux vêtir ta Muse ou la laisser à poil
L'important est ce que ton ventre lui injecte

Ses seins oblitérés par ton verbe arlequin
Gonfleront goulûment la voile aux devantures
Solidement gainée ta lyrique putain
Tu pourras la sortir dans la Littérature

Ventre affamé qui tend l'oreille
Maraudeur aux bras déployés
Pollen au rabais pour abeille
Tête de mort rasée de frais
Rampant de service aux étoiles
Pouacre qui fait dans le quatrain
Masturbé qui vide sa moelle
A la devanture du coin

Poète .... circulez !
Circulez poète !
Circulez !

terça-feira, janeiro 30

Pietro Aretino



Prefazione

Manifico utriusque ser Agnello,
voi, qui scribere scitis quare, quiae
spesse volte fate col cervello
di Bartolo e di Baldo notomia
e le leggi passate col crivello
nella vostra bizzarra fantasia,
questi dubbi, di grazia, mi chiarite,
ch'oggi in bordello han mosso una gran lite.



Dubbio I

Porzia fedel s'avea fatto chiavare
molt'anni col consenso del marito,
ma perché non potè mai figli fare,
ell'era da ciascun mostrata a dito:
un astuto villan fece chiamare
e fe' di figli un numero infinito;
or il marito l'ha per vituperio,
utrum possa accusarla d'adulterio?

Risoluzione I

La legge adulter singulare, testo,
dice ad legem Juliam de adulterio:
quando il marito non accusi presto
la moglie, che gli fa tal vituperio
e sa ch'ella molt'anni in disonesto
modo si dà con altri refrigerio,
più non la può de crimine accusare
e a tutta briglia si può far chiavare.



Dubbio II

Aveva la Martuzza un giorno tolta
la medicina e non potea cacare;
ond'ella avea dolor e pena molta
e quasi tutta si sentia crepare.
Talché temendo di restar sepolta,
un grosso cazzo in cul si fe' cacciare:
guarì, ma nel guarir gustò sapore.
E' tenuta di dirlo al confessore?

Risoluzione II

Tutti i canoni voglion ch'il peccato
se non è volontario non si stima,
e che l'uomo non può dirsi dannato
se non vende a Satan se stesso prima;
unde, quicumque sit, non è obbligato:
decima quinta, quaestione prima,
concludo ch'è peccato veniale
e dirlo al prete poco o nulla vale.



Dubbio III

Avea la Panta, da bisogno astretta,
concessa la sua potta a un giovin saggio,
il qual trovò la via non molto stretta.
Né potè asciutto andar per il viaggio.
Ei mutò strada e andò per la più netta
e dell'altrui domin prese l'omaggio.
Ha l'altrui possession egli turbata
e questa via dev'essergli vietata?

Risoluzione III

La costumanza della terra mia,
scritta de servitude et in latino,
vuol a chi del passar non ha la via
sia costretto di dargliela il vicino;
e così ancora se distrutta sia
per strano caso o per voler divino.
Itaque dico che non fece male,
perché la via dee aver più vicinale.



Dubbio IV

La Doralice a un medico promese
dargli una chiavatura a tutto pasto
se guarito le avesse il mal francese,
che il fegato e 'l polmon le aveva guasto.
Quel fe' tutta la cura a proprie spese,
ma alfin lei si morì fra quel contrasto.
Tenetur ne la figlia, come erede,
dargli la chiavatura ch'egli chiede?

Risoluzione IV

Messer Matteo deciso ha questo punto
e vuol che tai promesse non sien vane,
quand'egli a centotrentatré fu giunto
delle sue decisioni sovrumane;
ove vuol che promissio del defunto
obblighi quell'erede che rimane;
unde tenetur filia, ut volunt jura,
di dargli la promessa chiavatura.



Dubbio V

Un moro avea bisogno d'un ducato
e ad interesse lo volea pigliare;
ad Isabella Padoana andato,
che a questo modo ne solea prestare,
l'ebbe con patto scritto che cacciato
le avesse in cul, fin che l'avea a pagare,
un cazzo, ch'egli avea fuor di misura.
Questa convenzion può dirsi usura ?

Risoluzione V

Chi dell'impresto sol riceve prego
l'usura è ben dover perché si parta:
ma in questo caso che sia usura nego,
perché con l'infedel si fa la carta.
In capitolo ab illo questo allego,
decima quinta, quaestione quarta,
ov'è che il Papa usura far concede
con quelli che non son di nostra fede.



Dubbio VI

Un prete, ch'alla punta del suo cazzo
aveva un panarizzo da crepare,
gli fu insegnato da un cotal ch'a guazzo
del caldo d'una potta el fesse entrare;
egli a Giulia gentil non per sollazzo
lo mise in potta, ed era sua comare,
sol per non più sentir nel cazzo affanni.
Or qui fece egli ingiuria a san Giovanni?

Risoluzione VI

S'al capitolo quinto voi notate,
decimo quinta, quaestione sesta,
vedrete alfin che Dio la volontate
e ch'il pensier via più riguarda questa
vita, che l'atto di necessitate
e semplicezza far gli uomini desta;
sicché scusar si può quel prete tale,
che di due mali fece il manco male.



Dubbio VII

Due drudi d'Isabella Milanese
per fuggir le question fero contratto:
l'uno la potta e l'altro il cul si prese;
e così fu tra lor più giorni fatto.
Una notte ch'avea costei il marchese
l'uno chiavolla in cul fuori del patto,
l'altro potria accusarlo di ragione
per l'usurpata sua giurisdizione?

Risoluzione VII

Già Bartolo nel titolo in che modo
la servitù si perdono, nel fine
della legge si locus, dà nel chiodo
e vuol che, se le strade son vicine,
sia lecito passare in loco sodo,
purché sia parte congrua e di confine;
talché non gli è tenuto, anzi fu saggio
quel che nel tondo traversò il viaggio.



Dubbio VIII

A potta ritta volse, o caso duro,
Lavinia bella un ortolan chiavare,
e per essersi acconcia in loco oscuro,
spinse quand'ella il pié venne a scansare,
e per trovarsi colla testa al muro
ruppesi il collo e venne in terra a dare.
Utrum se si ha a punir un tal eccidio
et sit hic puniendus de homicidio?

Risoluzione VIII

Nella legge si ex plagis si tiene,
paragrafo cum scilla, nei digesti,
e nella legge Acquilia a carte piene
si fanno simil casi manifesti,
e se per caso e non per colpa avviene
di vita privo alcun per altri resti,
senz'aver dubbio alcun si dee concedere
che non si possi in tal caso procedere.



Dubbio IX

Un Marchigiano perfido, che avea
giurato di non mai chiavar più donna,
vide Antonia Fornara, che tenea
più viso di calzar braghe che gonna,
e la chiavò, com'egli far solea,
con la testa appoggiata a una colonna.
Vorrei saper, sarà costui sicuro
non esser accusato di spergiuro?

Risoluzione IX

Nelle ventidue cause chiaramente,
alla question succeda il caso oscuro.
Al capo terzo Dixi, fuor si sente
e il canone lo mostra chiaro e puro,
ove chi creda far diversamente
esser non dee punito di spergiuro,
perché parveli maschio e non commesse
spergiuro alcun, sebben colei fottesse.



Dubbio X

Un gentiluomo, sol per far dispetto
a Giulia Rossa, a sé chiamò un villano,
e d'un mantel vestillo e d'un farsetto
e di danari assai gli empì la mano
perché Giulia chiavasse; ei con affetto
l'opera fe' ben, ma avendo un cazzo strano,
di dolcezza e dolor la fe' morire.
Utrum se ciò si può assassinio dire?

Risoluzione X

Alla legge Cornelia de' sicari
nel codice così il testo ragiona:
che quelli non sien detti micidiari
ch'ammazzan con il cazzo una persona
per casi fortuiti e straordinari.
Onde quei che col cazzo morte dona
non commette omicidio ed il meschino
in conseguenza non è un assassino.



Dubbio XI

Un ch'evea poco cazzo e manco lena
piglia Lucrezia Meltiola per moglie.
Ella di non far figli sente pena,
dacché la corte eredita sue spoglie;
da un giovinetto di gagliarda schiena
si fe' chiavar conforme alle sue voglie
e fanne un figlio di morire a risco.
Utrum se qui v'abbia razione il fisco?

Risoluzione XI

Non avrà nulla il fisco in questo affare
per la legge si miles del defunto,
digesto de adulteriis ubi dare,
sottilmente si tratta questo punto:
qual vuol che se la moglie cavalcare
dal marito e da più si fa in un punto,
quel che ne nasce si presume in pria
del marito figliuol che d'altri sia.



Dubbio XII

Un cocchiero Lombardo aveva in casa
una cognata detta Dorotea;
del cocchiero una notte il cazzo annasa
e finge che la madre le dolea;
quei forse che l'avea già persuasa
a questo, il cazzo ritto le porgea
dicendo: or prendi su, cognata, questo.
Lo prese. Or cerco se commesse incesto?

Risoluzione XII

A ventitré propria questione ottava,
nel capitolo accedit già fu detto
che in delictis s'attende se sia prava
l'intenzione o sia per buon rispetto;
onde costui, che la cognata chiava
sol per guarirla e non per altro effetto,
se miri al fin la causa come deve
non farà incesto, ma peccato lieve.



Dubbio XIII

Era gravida monna Berniciglia
e vide un cazzo dalla sua finestra
colla testa sì grossa, che somiglia
ad un grosso bolzon d'una balestra;
lei, che voglia n'avea, lo prese a briglia
tutta gioiosa colla sua man destra
e se lo pose in bocca con gran furia.
Peccò costei di gola o di lussuria?

Risoluzione XIII

Né in l'un né in l'altro avea costei peccato
giudico, se con Bartol non m'inganno,
nel titol delle somme dello stato
imperiale, ove non può né affanno
né pena aver chi ha il ventre ingravidato,
acciò che il parto non ne senta danno.
Similmente a costei non dee vietarsi
cosa che al ventre venga utile a farsi.



Dubbio XIV

Per far Messer Pataffio al figlio onore,
gli diè Porzia Procelfa sua vicina
per moglie, il qual non ebbe mai vigore
di porre proprium gladium in vagina;
onde per non restarne in disonore
da sé il buon vecchio ruppe la puttina,
poi mostrò la camiscia alli parenti.
Utrum può dirsi stupro dalle genti?

Risoluzione XIV

Una persona sola in unione
il padre e 'l figlio son considerati
e ne' Digesti ubi de Legatione,
lege sciendum, tertia de' legati,
che l'un per l'altro oprar possan s'espone,
s'alcuna cosa far sono obbligati;
onde stupro non fu se le aprì l'alvo
per render l'onor del figlio salvo.



Dubbio XV

Stava Zanetta musica cantando
alla finestra ad aspettar guadagno;
ecco ch'un pescator viene remando,
che aveva un cazzo spaventoso e rnagno,
scagliossi in groppa contra punteggiando:
ambo gustaro dal capo al calcagno,
poi nulla dielle, andò a far il suo offizio.
Puol agir lei de praestito servizio?

Risoluzione XV

Nil est, s'ella ha servito con la potta
e lui col cazzo oprando ha soddisfatto,
e se restò con lui stando di sotta
tutta malconcia egli di sopra ha fatto;
unde lex naturalis sancta e dotta
innominato chiama un tal contratto,
ibi prescriptis verbis nei digesti,
paragrafo, s'io feci, tu facesti



Dubbio XVI

Il marito di Giulia del Cancello
avea bisogno di certi quattrini.
La moglie vende un certo locarello
che avea per dieci scudi a due facchini.
Confina il loco con ser Antonello,
quel mastro che conficca i malandrini;
e de congruo dimanda egli ogni cosa.
Avea ragion per qualche testo o glosa?

Risoluzione XVI

Messer sì che può tutto dimandare,
se per l'anno non ha fatto tardanza,
perché la moglie, in questo caso, pare
una statua, ch'adorna quella stanza.
Et approbamus, così scrisse il Chiare
de jure congruo, in nostra costumanza;
talché se vuol ser Antonel, si scioglie,
però apprezzi il contratto con la moglie.



Dubbio XVII

Fu già lasciata Prudenzia Ciambella
dal marito per spazio di molt'anni;
ma perché la pativa di renella
e nel pisciar sentiva grandi affanni,
più d'una volta fece star con ella
un, ch'il rimedio aveva sotto i panni.
Vuol la moglie il marito, ora ch'è giunto:
utrum obstet praescriptio in questo punto?

Risoluzione XVII

S'è stato assente per anni quaranta,
che più non l'abbia son d'opinione,
ché così vuol la legge giusta e santa
de quadraginta annorum praescriptione,
nel modo che Matteo d'Afflitto canta
nella decimaterza decisione.
Onde costui se l'ha prescritto, quello
vada a trovarne un'altra nel bordello.



Dubbio XVIII

Laura Vítisca, ladra a tutti nota,
amò fuor di misura un bel studente.
Costei fa a molti star la borsa vuota
nel chiavarla, rubando destramente,
e a quel perché la schiena ben le scuota
dà tutto il tolto, ma secretamente.
Or devesi chiamar quel ladro e tristo
se quanto ebbe da lei fu mal acquisto?

Risoluzione XVIII

Nel paragrafo quia chiaro si vede
de bonorum raptoribus statuta,
che s'alcun fura quel ch'esser suo crede
né ribaldo, né ladro si reputa;
nella sesta question pur si concede
senza dubbio verun, senza disputa,
est juris mei; onde ne attende il frutto
ed ha colui di buon acquisto il tutto.



Dubbio XIX

Un pedante, mezz'orbo, non vedea
a legger la lezione agli scolari,
e perché da diversi inteso avea
ch'il cul rende la vista e gli occhi chiari,
andò a trovare un dì madonna Astea
e dielle un libro e due giuli in danari
e 'n cul le pose il cazzo e 'n potta il dito.
Utrum poss'io chiamarlo sodomito?

Risoluzione XIX

Nei decreti, alla prima distinzione
di codesta materia ov'è la chiave,
al titol detto de consecratione,
nel capitolo sicut degno e grave,
ove in tutto e per tutto si depone
che la necessità legge non have;
talché il pover pedante fu costretto
per la vista passar per loco stretto.



Dubbio XX

Un bottegar la Claudia un dì avezza
in cul chiavò, ma fu nel dì di Pasca,
la qual quando nel fine per dolcezza
lo vide indebolito, come accasca,
perché non le avea usato gentilezza
per il passato, gli rubbò la tasca
con tutti li danar per soddisfarsi.
Utrum costei di furto può accusarsi?

Risoluzione XX

De condictione in debito noi avremo
nei digesti la legge si non sorte,
nel paragrafo cento, al verbo nemo,
che ritener senza favor di corte
robba di nostro debitor potemo,
pur ch'util più del debito non porte;
talch'ella non tenetur se i quattrini
tolti non eran più di sei carlini.



Dubbio XXI

Antonia Saponara stando in letto,
nel tempo che lo spirito si parte,
venne un suo innamorato giovinetto
e ben chiavolla in l'una e l'altra parte;
ond'ella una collana, ch'avea al petto
lasciogli per legato scritto in carte.
Utrum sendo il legato per trastullo
si possi dir che il testamento è nullo?

Risoluzione XXI

Messer Matteo nella decisione
sessantanove dice ch'al consorte
quando dolose fa una donazione
la moglie, che sta già vicina a morte,
nel testamento poi non ha ragione;
ond'io consideratis bene, accorte
considerandis dico che quel tale
non l'è marito e '1 testamento vale.



Dubbio XXII

Isabella di Luna un giorno avea
per la notte ad un giovine promesso;
poi sta con altro e a quel che non potea
disse e che ritornasse il giorno appresso.
Quel venne e come l'altro far solea
la chiavò ben nell'uno e l'altro sesso,
poi le lasciò di rame una catena.
Tenetur illi ne de falsi poena?

Risoluzione XXII

In lege si ambo, decima, Ulpiano
nel dotto titol de compensatione,
vuol che dolus cum dolo a salva mano
può compensarsi con discrezione;
onde se con mancargli un atto strano
usò con quegli fuor d'ogni ragione,
ricevendo da lui si buone notti,
nunquam tenetur falsi, dice il Scotti.



Dubbio XXIII

Avea locato Giulia di Martino
un frate per chiavarla un tanto il mese.
In otto giorni fu stanco il meschino
per il soverchio scuoter dell'arnese:
e in suo loco lasciò fra Venturino
per darsene a quell'opra a proprie spese.
Utrum per questa satisfazione
dee perdere il salario il fra Briccone?

Risoluzione XXIII

Vuole questo Ulpìan per la sua legge,
inter artifices de solutione,
ove chiaro si pondera e si legge
ch'ivi si tratta de industria personae:
ma il giusto impedimento la corregge
per l'aItra de pollicitatione,
che col titolo sic comincia il testo,
siché iI frate non dee perder per questo.



Dubbio XXIV

Prer dare Ortensia gusto ad un suo amante
e del suo corpo il più soave loco,
il cul gli diè, ma con promessa avante
che v'abbia a por del suo gran cazzo un poco.
Quello non potè star così costante
alle primarie furie di quel giuoco,
tutto nel cul vel pose. Utrum Ortensia
accusare lo possa di violenza?

Risoluzione XXIV

In lege prima de justitia et jure,
Jus naturae, paragrapho, vuol Baldo
che primi motus homini naturae
non sono in suo poter quand'egli è caldo:
il primo furor fa ch'egli non cure
d'eser tenuto peccator ribaldo;
onde spinto costui dai primi moti
accusar non si può degl'altri ignoti.



Dubbio XXV

Con un romito un giorno per ventura
sconttossi un'abadessa sempliciotta,
il qual le dimandò con mente pura
che di grazia gli desse una pagnotta;
ed ella alzati i panni alla cintura,
li mostrò la sua bianca e bella potta
e disse non avergli altro che dare.
Utrum tal carità dovea accettare?

Risoluzione XXV

Perché la carità si fa in casella,
non doveva il romito ricusare
la bianca potta delicata e bella,
che l'abadessa gli volea donare,
ma con volto ridente dir: sorella,
la carità non voglio rifiutare;
e per mostrare d'averla avuta grata,
saltarle addosso e darle una chiavata.



Dubbio XXVI

Frate Cipolla gran predicatore
veggendo gli altri frati a buggerare,
trovato un fraticel si mise in core
voler un tal secreto anch'ei provare;
ma ben presto alla prima fece errore
spingendo il cazzo in su senza bagnare,
onde fe' di quel cul un melgranato.
Utrum se per provar fece peccato?

Risoluzione XXVI

I gran sommisti tengon tutti quanti
e con quelli i casisti di coscienza
che dei peccati se ne trovin tanti,
che bisogno non han di penitenza;
perché dove il voler non si fa innanti,
s'attribuisce tutto a negligenza.
Onde senza voler fe' il frate il tutto;
non fu peccato già fottere il putto.



Dubbio XXVII

Suor Marta la lussuria avea nel sesso
e volendo la carne lacerare,
prese un cazzo di vetro d'un commesso
e con la potta cominciò a scherzare;
ma spinta dal furore a un colp'istesso
volendo tutto dentro farlo entrare,
le si ruppe la potta e '1 cul che è peggio.
Utrum se per far ben fe' sacrilegio?

Risoluzione XXVII

Di medicina il principe Galeno
dice che nell'interne infiammazioni
si deve col trar sangue ridur meno
nel paziente le molestazioni;
onde se per smorzar la rabbia appieno,
che sturbar la potea dall'orazioni,
suor Marta si sbregò '1 cul e la potta,
sacrilega non fu, ma fu divotta.



Dubbio XXVIII

Confessando una vedova un Teatíno
nella carne sentia gran tentazione,
e per far stare il cazzo a capo chino
lo prese ad ambo man con divozione;
e tanto su e giù scosse il meschino
che spuntò la bambagia dal giubbone
e mandò lussuria in precipizio;
utrum se questo fu castigo o vizio?

Risoluzione XXVIII

Perché bisogna quanto più si puote
li scandali evitar dei sensi vani,
il Teatin, che più soffrir non puote,
per scandali schivar, gusti profani,
i desideri e volontà corrotte,
si valse a raffrenar d'ambo le mani
la tentazion ch'il molestava assai.
Onde vizio non fu trarsi di guai.



Dubbio XXIX

Fottendo un frate a gambe in spalla un tratto
con un palmo di cazzo un'abadessa,
dal gran piacere in paradiso astratto
non conosceva il tondo della fessa;
onde spinto da furia come un matto,
nel tondo avendo la sua lancia messa
disse: oh che dolce di peccar cagione!
Utrum se il cazzo suo fu buggerone?

Risoluzione XXIX

D'infamia non si dee, dice Jasone,
né d'altro juxta legem incolpare
un mentecatto, che non ha ragione,
né di coglionerie puossi accusare:
onde il cazzo del frate buggerone
in conto alcuno si potrà chiamare,
quia stando fuor di sé, sol per trastulo
cacciò il suo cazzo all'abadessa in culo.



Dubbio XXX

Mentre con divozion stava parlando
suor Cherubina con fra Galeazzo,
per disgrazia la madre starnutando
cacciò un peto dal cul con gran schiamazzo.
Il frate a quel saluto diè rimando
e le rispose in fretta: qualche cazzo.
La monaca turbossi e l'ebbe a male.
Utrum se questo fu caso papale?

Risoluzione XXX

Dice la legge, paragrafo quando,
titolo de verborum prolatione,
che quando verbum dictum est scherzando
sia chi si vuol non fert punizione.
Addit immo la legge: il cazzo entrando
nel forame del cul sine intentione,
nunquam questo sarà peccato tale
che richiedesse assoluzion papale.



Dubbio XXXI

Laura monaca fu da un Genovese
richiesta di chiavarla a potta dietro
e d'andar per la via dritta promese
e di lasciare il primo buco addietro.
Poi presto il cazzo proprio in cul le mese
e spinse, ond'ella ne biasmò san Pietro.
Utrum deesi punir quella biastema
e restar debba della lingua scema?

Risoluzione XXXI

La prima distinzion di penitenza,
nel capitolo pro est ne dà indizio
che chi si trova nell'altrui potenza
e Dio rinnega per alcun supplizio
non merta pena; e quella violenza
fa che non se gl'imputi a malefizio,
onde costei non si può già punire
di biastema per doglia da morire.


--------------------------------------------------------------------------------

Altri Dubbi Amorosi



Dubbio I

Fotteva fra Martin suor Liberale
in potta, e nel chiavar sendosi avvisto
che ne poteva nascer l'Anticristo,
volse finir in cul. Fe' bene o male?

Risoluzione I

Molto bene fece il padre fra Martino
per schivar d'Anticristo la venuta,
finire in cul la sua nobil fottuta,
che cominciato in potta avea il meschino.



Dubbio II

Fotteva a potta ritta suor Lucia
un gesuita, a tal mestier non uso,
e nel cacciarlo dentro fallò il buso.
Fu sacrilegio ovver fu sodomia?

Risoluzione II

Il povero ignorante gesuita,
che sol per ignoranza fallò il buso,
sacrilego non fu, ma per escuso
si dee tener, nemmen fu sodomita.



Dubbio III

Suor Marta nell'oscur ruppe il boccale;
l'abadessa gridò: cazzo ti fotta;
ella sel fe' cacciar subito in potta.
Utrum per ubbidir fec'ella male?

Risoluzione III

Meglio non potea far suor Marta dotta
che a' comandi prestare l'ubbidienza
dell'abadessa, che per penitenza
un cazzo le ordinò dentro la potta.



Dubbio IV

De' gesuiti il padre sacristano
per raffrenar la sua lussuria tanta,
cacciò il cazzo e i coglion nell'acqua santa.
Fu caso meritorio oppur profano?

Risoluzione IV

Il padre sacristan meritò molto
se, per fuggire una lussuria tanta
cacciò il cazzo e i coglion nell'acqua santa
per restar da quel mal libero e sciolto.



Dubbio V

Destossi l'abadessa con gran furia
sognando di mangiar latte e giuncate,
trovossi in bocca il cazzo dell'abbate.
Fu peccato di gola o di lussuria?

Risoluzione V

Non fu gola o lussuria, è risoluto,
perché questo caso accidentario;
ben se l'avesse avuto in tafanario
o in potta dubitar s'avria potuto.



Dubbio VI

Per torsi il mal di madre suor Prudenza
che le impedia sue sante orazioni,
si fe' chiavar da due frati ghiottoni.
Meritava di ciò far penitenza?

Risoluzione VI

Se sol per poter dir le sue orazioni
ben ben si fece fotter suor Prudenza,
di ciò non dovrà far la penitenza,
ché alcuna non sen dà alle divozioni.



Dubbio VII

Un giorno stando Giulia in una scola
prese in la bocca il cazzo a un suo bertone
e in un istante gli diè un morsicone.
Ditemi se costei peccò di gola?

Risoluzione VII

Perché non con espressa volontà
madonna Giulia morsicò quel cazzo
al suo berton, nemmeno per sollazzo,
peccato già di gola ella non ha.



Dubbio VIII

Non potendo cacare un disperato,
perch'altro non potea, si fe' cacciare
un cazzo in culo e si fe' buggerare.
Utrum per non morir fece peccato?

Risoluzione VIII

La morte volontaria è proibita,
sicché ben fece a farsi buggerare
il poverin, che stava per crepare,
e molto meritò a campar la vita.



Dubbio IX

Livia volea saper che cosa è amore
e per questo si fe' chiavare alquanto;
nacque in questa maniera un dubbio intanto
s'ella sol per provar commise errore?

Risoluzione IX

Non è peccato quel che per provare
si fa, nemmen si tiene che lussuria
sia, onde non dee mettersi in furia
costei, che il cazzo volse esprimentare.



Dubbio X

Sul cazzo che rizzato avea fra Carlo
giù dal balcon cascò suor Margherita,
le ruppe il culo e le salvò la vita.
Dovea perciò dolersi o ringraziarlo?

Risoluzione X

Se nel precipitar suor Margherita
non dava il cul sul cazzo di fra Carlo,
certo moria; onde ringraziarlo
dee che col cazzo suo le diè la vita.



Dubbio XI

Suor Tarsia al cesso andò credendol vuoto
trovar, ma vi trovò fra Galeazzo,
s'infilò la meschina sul suo cazzo.
Ruppe la suor di castitate il voto?

Risoluzione XI

Perché suor Tarsia non per far peccato,
ma non volendo, tolse in le culate
il cazzo, ella per ciò di castitate
non ruppe il voto, questo è dichiarato.



Dubbio XII

Un che dal papa avea licenza avuta
d'assolver d'ogni caso all'ora all'ora,
fotte ben ben la madre suor Leonora,
poi l'assolve. Num sit bene absoluta?

Risoluzione XII

Non solo per averla ben fottuta,
ma se l'avesse anco buggerata,
con la licenza che gli fu già data,
se assolta l'ha, la fu bene assoluta.



Dubbio XIII

Sul cazzo di fra Biondo ardito e scalto
dimenandosi ben suor Cleofasè
ruppe i coglioni al frate e il culo a sé.
Utrum deve dolersi l'un dell'altro?

Risoluzione XIII

Commune ad ambidue fu la rottura
del culo a l'una, a l'altro dei coglioni,
e di querele e di lamentazioni
l'uno dell'altro non dee aver paura.



Dubbio XIV

Fra Astolfo per mandar la sojaccia
il cazzo al cul dei fraticin fregava,
onde per terra il seme gli cascava.
Utrum peccasse in re de sodomia?

Risoluzione XIV

Fra Astolfo non si può dir sodomito
perché non dentro il cul, ma sol di fuori
il suo cazzo fregava intorno agli ori;
non deve già per questo esser punito.



Dubbio XV

Nei gran caldi di luglio frate Alberto,
per schivar l'ozio e tutti gli altri vizi,
menava il cazzo a tutti i suoi novizi.
Fu questa opra profana ovver di merto?

Risoluzione XV

Perché nell'ozio regna tentazione,
per questo se menò il cazzo ai puti
fe' ben, e se li avesse anco fottuti,
stata sarebbe più eroica azione.



Dubbio XVI

Un frate Zoccolante, per ventura
fottendo a potta dietro un'abadessa,
gliel cacciò in cul credendo foss'in fessa.
Ditemi se peccò contro natura?

Risoluzione XVI

Non est peccatum, se non volontario:
perciò il frate fottendo l'abadessa
contro natura azion non ha commessa,
se 'l cacciò non volendo in tafanario.



Dubbio XVII

D'aver in cul fottuto un Giudeo cane
s'accusò Pippo con gran contrizione:
negolli il confessor l'assoluzione.
Utrum se ancora il peccato rimane?

Risoluzione XVII

Bartolo si rivolge incontro al tristo,
capitale sexto, e i deretali ancora,
perché sfondato non l'avesse allora
per vendicare la morte di Cristo.