domingo, abril 15

O Novo Cartaz do PNR



As ideias não se apagam, discutem-se!


E eis como uma afirmação, que gozaria da unanimidade num meio de seres humanos civilizados na plenitude das suas faculdades mentais e racionais, não deixa de me causar uma certa perplexidade quando vem da boca de quem vem. E isto por dois motivos:

a) Coloco sérias dúvidas no que toca à existência de ideias na cabeça dos meninos de coro com couro dos rapazes forçudos do PNR. Sempre me lembro de ouvir dizer uma frase de sabedoria popular: Quem tem força puxa uma carroça!. Sempre me senti indignado por essa afirmação. O asno era um bicho simpático que me habituara a estimar desde pequeno na figura do asno do moleiro bêbedo que tantas vezes me carregara sentado em cima das taleigas encosta acima. Não demostrava ele receios, caprichos, afectos, tentações, anseios quando subia no seu dorso a longa e íngreme calçada em dias de verão, por entre o nervoso do passo miudo e o resvalar do casco na caruma seca contra o granito polido das pedras do chão. Por isso te respeito enquanto bicho simpático e inteligente, com orelhas felpudas e olhos ternos, e é por respeito a este sentimento que a mim te liga que por aqui não irei entrar. Por te reconhecer, embora com a redução devida à tua condição animal, capacidade racional, relaccional e emotiva como ocorre com os seres humanos racionais. O que nos leva a uma velha questão: a ideia. Não iremos aqui definir a questão de ideia porque muitos e melhores do que nós já antes o fizeram, e porque sempre me disseram que quando se discute com alguém é conveniente e de bom tom modificar a complexidade da expressão pelo que se torna bastas vezes legítimo o simplificar dos conceitos envolvidos. Explicada que está a ausência de correntes filosóficas no presente texto, poderíamos definir ideia como elemento ou conjunto de elementos que, de per si ou reunidos de acordo com determinados parâmetros, de forma simples ou elaborada, são detentores de um breve vislumbre de racionalidade.
Como os senhores do PNR certamente se aperceberão, uma tal definição exclui-os de todo e possibilidade de em vós poder refugiar abrigo, mesmo que passageiro e provocado por alguma corrente de ar, alguma ideia. Deviam deixar crescer um pouco o cabelo certamente. Mas para isso era necessário que se lembrassem da política de fixação de solos de D. Dinis com a plantação do pinhal de Leiria que se aprendia antes na quarta classe. Devo estar a ficar velho porque já ninguém se lembra disso. Não que eu seja preconceituso com skinsheads. Antes pelo contrário. Lembrar-me-ei das longas noites de debate político no Espace 68 da Université Michel de Montaigne (EX-Bordeaux III) quando, numa mesma sala em auto-gestão, partilhada pelos vários grupos de esquerda se podia ter uma boa biblioteca de Ciência Política como humanista. Onde se discutiam ideais e se falava de Thoreau, de Bakhunin, de Proudhom, de Marx, de Mao e de Kropotin, de Victor Hugo como de Renato Curzio. Numa mesma sala coo-habitavam e discutiam ideias pessoas das mais variadas tendências, de forma mais ou menos ordeira mas sempre numa base de paridade e de respeito. Entre eles estavam vários skinheads ligados ao movimento SHARP, outros mais vermelhos ligados a movimentos anarquistas e anarco-comunistas. Com eles tive longas e acesas discussões pois eram gente com um pensamento estruturado e com cultura política e convicções profundas. E que dizer do Vasco, punk atípico vegetariano e terno com a graça de um coice de mula, e do Claudio, velho companheiro e fiel amigo de danças e andanças de e per strada das noites de Roma, Florença, Bratislava, Bolonha, Salerno, Nápoles, Procida, Milão, Praga, Pistoia. Não me move o preconceito contra os cabeças rapadas mas o devido respeito à racionalidade básica presente em algo de um direito natural tão linear como um Não Matarás! E é chegados a este ponto que a questão da discussão se esbate e se entra no ponto dois.

b) Que questão da discussão pressupõe a existência de ideias e de interlocutores válidos para o fazer já foi atrás demonstrado; no entanto, e partindo do remoto e académico princípio de contradição, vamos aqui colocar a hipótese retórica de ser esse o vosso caso. Lembro-me do meu caro e saudoso amigo Valerio Costa me dizer muitas vezes, por entre os bosques de Trento, que a civilização e a História começaram no dia em que alguém se decidiu a substituir a clava pela palavra. A ideia de discussão de ideias num ambiente de não-violência, de respeito e de paridade entre interlocutores era uma marca civilizacional de primeira grandeza. Era a marca! O intelecto substituia-se ao primarismo instintivo, o diálogo à brutalidade e à agressividade. E também neste campo perdeis e inviabilizais qualquer diálogo ou discussão. Não respeitais o próximo e apenas sabeis agredir com sanha de predadores cobardes. Como as hienas, em grupos alardemente alarves haveis morto gente em imbecis rituais de violência gratuita, matastes, cobardemente a coberto da noite e do grupo, Alcino Monteiro, o Zé da Messa e tantas outros, baseais a vossa identidade no culto da força e não no da razão sem terdes por isso a coragem e a nobreza de um caçador que caça solitário abertamente à luz do dia, soides parasitas e insultais o próprio sistema democrático com a Vossa existência. A Vossa própria existência enquanto partido político é obscena porque amoral, como imoral se torna um sistema que vos conceda qualquer possibilidade de existência legal.

E aqui seguem exemplos do vosso tipo de discussão: